sexta-feira, dezembro 07, 2012

iguais.

Dormir junto. Conversar até amanhecer. Fugir do cotidiano. Dividir a ansiedade. Compartilhar a loucura. Vibrar no plural. Espalhar o foda-se em áreas diversas. Esquecer do passado. Salvar-me num cavalo branco. Andar a pé pelas quadras. Entender o seu choro compulsivo. Receber as minhas mãos. Construir um presente. Dizer que vai dar certo, mesmo quando parece que o mundo vai despencar. Admirar o cheiro do dia. Pedir pra eu ficar mais. Tirar a minha blusa, tirar a sua blusa. Sugar e beijar as bocas (de cima, de baixo). Deslizar a língua nos pentelhos, seios, virilhas. Morder as suas coxas pra escutar o seu gritinho no meu ouvido. Desejar uma paixão assumida de mistura de alma

quinta-feira, dezembro 06, 2012

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O dia acordou nublado. Estava esvaziada. Você não saia da minha pele. Como uma espécie de dor, que mais fácil aceitar, do que nadar contra. Me atirei nas palavras, nas perguntas usuais. Poderia tentar descrever aqui, todos os pormenores que me caraterizava como uma mulher " ridícula e insegura". Mas tal discurso só faria sentido se tivesse olhos e a tua boca perto, a ponto de um suicídio. Me senti pequena dentro da sua imensidão. Você fazia parte de tudo que me rodeava. De forma, que se houvesse um corte, eu estaria á deriva. O amor me afogava, me tirava do centro. Tive medo de mim, da pouca coragem que restava. Do seu sorriso devastador, do cheiro da virilha, a carne macia. É tarde, o sol sendo engolido pelo mar.

segunda-feira, julho 02, 2012

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Metade. Segundo semestre. Devo voltar escrever, agora. Buscar uma nova rotina, um foco específico. Rever cadernos, e-mails, anotações. Quero um novo romance. Experimentar mais uma vez. É engraçado vivenciar a ausência depois de tanto preenchimento. Parece que ainda estou em processo de digestão. Sinto falta do encontro, da madrugada, das incertezas. O exercício de entrega plena, de massacre, de tortura. Despejar conscientemente um bocado de mim na maldita folha em branco. Escrever é um ato de egoísmo solidário. Sinto-me só quando as palavras faltam, quando o silêncio não dá o tom. Esse gosto de ferrugem que invade a boca, os poros. É triste ficar assim, amorfa. Discurso vazio e fantasia rasgada.

sexta-feira, junho 22, 2012

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Criar poema é mergulhar em esconderijos explícitos. 

Poesia na geladeira





Meus poemas viraram garrafas para embelezar cozinhas tristes e geladeiras vazias.  Elas estarão expostas (e disponíveis a venda!) nesse sábado na Feira 102 realizada no Objeto Encontrado.

As belezocas foram feitas em parceria com a artista plástica Patrícia Bagnieviski e o Coletivo Transverso. Pra quem não conhece o trabalho desenvolvido pelo grupo, vale a pena passear pelos links. E pra quem quer ver as garrafas de perto, fica o convite de um sábado animado. =]

Fidelidade por André Comte-Sponville.

"Para o casal é outra história. Que há casais fiéis e outros não, é uma verdade de fato, que não parece, ou já não parece, atingir o essencial. Pelo menos se entendemos por fidelidade, nesse sentido restrito, o uso exclusivo, e mutuamente exclusivo, do corpo do outro. Por que só amaríamos uma pessoa? Por que só desejaríamos uma pessoa? Ser fiel a suas idéias não é (felizmente!) ter uma só idéia; nem ser fiel em amizade supõe que tenhamos um só amigo. Fidelidade, nesses domínios, não é exclusividade. Por que deveria ser diferente no amor? Em nome do que poderíamos pretender o desfrute exclusivo do outro? É possível que isso seja mais cômodo ou mais seguro, mais fácil de viver, talvez, no fim das contas, mais feliz, e, enquanto houver amor, até acredito que seja. Mas nem a moral nem o amor parecem-me estar presos a isso por princípio. Cabe a cada um escolher, de acordo com sua força ou com suas fraquezas. A cada um, ou antes a cada casal: a verdade é valor mais elevado do que a exclusividade, e o amor me parece menos traído pelo amor (pelo outro amor) do que pela mentira. Outros pensarão o contrário, talvez eu também, em outro momento. Não é isso o essencial, parece-me. Há casais livres que são fiéis, à sua maneira (fiéis ao seu amor, fiéis à sua palavra, fiéis à sua liberdade comum…). E tantos outros, estritamente fiéis, tristemente fiéis, em que cada um dos dois preferiria não o ser. O problema, aqui, é menos a fidelidade o que o ciúme, menos o amor do que o sofrimento. Não é mais meu tema. Fidelidade não é compaixão. Serão duas virtudes? Sem dúvida, mas, justamente: são duas. Não fazer sofrer é uma coisa; não trair é outra, e é o que se chama fidelidade.

O essencial é saber o que faz com que um casal seja um casal. O simples encontro sexual, por mais repetido que seja, não bastaria evidentemente para tanto. Mas também não a simples coabitação, por mais duradoura que seja. O casal, no sentido em que uso a palavra, supõe tanto o amor como a duração. Supõe, portanto, a fidelidade, pois o amor só dura sob a condição de prolongar a paixão (breve demais para fazer um casal, suficiente para desfazê-lo!) por memória e vontade. É o que significa o casamento, sem dúvida, e que o divórcio vem interromper. Se bem que… Uma amiga minha, divorciada, depois recasada, dizia-me que permanecia fiel, em alguma coisa, a seu primeiro marido. “Quero dizer”, explicou-me, “ao que vivemos juntos, a nossa história, a nosso amor… Não quero renegar tudo isso.” Nenhum casal, com maior razão, poderia durar sem essa fidelidade, em cada um, à sua história comum, sem esse misto de confiança e de gratidão pelo qual os casais felizes (há alguns) se tornam tão comoventes, ao envelhecer, mais até que os namorados que começam, que, na maioria dos casos, ainda não fazem mais que sonhar seu amor. Essa fidelidade me parece preciosa, mais que a outra, e mais essencial ao casal. Que o amor se aplaque ou decline, é sempre o mais provável, e é bobagem afligir-se com isso. Mas quer se separe, quer continue a viver junto, o casal só continuará sendo casal por essa fidelidade ao amor recebido e dado, ao amor partilhado e à lembrança voluntária e reconhecida desse amor. Fidelidade é amor fiel, dizia eu, e assim é também o casal, mesmo o casal “moderno”, mesmo o casal “livre”. A fidelidade é o amor conservado ao que aconteceu, o amor ao amor, no caso, amor presente (e voluntário, e voluntariamente conservado) ao amor passado. Fidelidade é amor fiel, e fiel antes de tudo ao amor.

Ama-me enquanto desejares, meu amor; mas não nos esqueça."

André Comte-Sponville - em pequeno tratado de grandes virtudes

sábado, maio 26, 2012

Para os fios de cabelo

Triste é saber que tudo passa. Que em breve terei que reler cartas mofadas para tentar buscar aquele cheiro, aquele gemido. O timbre que parece continuar na cabeça, mas que na verdade, já se perdeu entre um orgulho e outro. Como é difícil caminhar passos tão semelhantes, mesmo que em caminhos diversos. A dor permanece traçada, incrustada na pele. Pouco importa o dia da semana ou o salário do mês. Solidão é está inapto dentro de uma cortina de fumaças. É não se misturar, não achar graça em quase nada. É a incompetência generalizada de saber sorrir. Todas as palavras se repetem. Sempre. As relações. O eu te amo. Nada disso me pertence de verdade. Somente o corte vertical bem no meio do corpo. Aberto de novo. Desnecessária. Rocha trincada. Distribuo as mentiras. O som do corpo que despenca. Corroída. Putrefata. Tudo é passagem, e pela falta de afeto, do desejo de estar presente, eu me descarto. Nada de muito importante, digo em voz alta. Tons apagados. Ou sépia - pela moda, pelo desgaste. Não me reciclo. Não mudo os conceitos. Opto pelo silêncio, pelo monólogo partido. Hoje, eu só declamo para os meus fios de cabelo. 

sexta-feira, maio 11, 2012


O profundo silêncio que se escuta. Eco de liberdade. Fios de cabelo no chão. Quantos cairão até o final do último parágrafo? Eu celebro o ato de descamar diariamente. Um pedaço de pele. Um pedaço de unha. Um pedaço de palavra. Esfrego a minha senhora, enquanto tomo banho. Retiro o cheiro dela, disfarço o gosto, camuflo o medo.  Eu entrego, sem objeções, o meu império. Os pés dançam sob o abismo velado a espera diária por uma solução eficaz. Eu bebo a minha eternidade no café da manhã. Assopro as certezas para longe. Peço para que em breve, não haja mais chão. Nem buracos. Nem padrões. O meu tempo deve ser todo consumido. Me despeço enquanto apago as memórias deixadas. Intercessões, alegrias, dores, marcas, as cicatrizes e afins. Os pormenores serão abortados. Até que tudo vire ausência. E o acaso me transforme em lembrança. 

domingo, abril 01, 2012

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Concentração, silêncio. O trabalho árduo. O inferno da mesma frase. Digitar e deletar, incontáveis vezes. Exaustão da alma. Um mergulho profundo sem droguinhas superficiais contemporâneas. A obrigação de estar inteiro, presente, olhando para o seu umbigo. Pra tela em branco. Esse abismo das palavras repetidas para criação de um “algo novo”. A incompetência, a percepção do desprezível, a vaidade castradora. A insuportável condição humana que necessita de uma solidão extrema. Autismo, esquizofrenia, entrega absoluta. Como é difícil voltar escrever, meu deus.  

quarta-feira, março 21, 2012

Grupo Corpo

em pequeninos arranhões

Transparentes e cortantes. O pé da taça, inteiro, no canto. Muitos pedaços espalhados pelo chão. Acima, a mancha de vinho. Redonda, avermelhada. A tal que escancara o bonito arremesso. O som trincado, suspenso. Algumas gotículas mais fortes cobrem o espaço e, em outras partes, as linhas formam pequenos caminhos interrompidos. Situação engraçada. Nenhum dos escorridos atingem o chão.  É como se faltasse ar pra completar o trajeto e, os traços morressem antes do fim. Foge-se da meta, dos braços certos. Parasse no meio. Orgulho ferido e parede branca. De longe, é um quadro abstrato. A agressividade de se perder dentro, em pequeninos arranhões. Contemplação da dor em uma sala arrumada. E reparte-se, outra vez, a minha poesia.

domingo, março 18, 2012

Público e Privado


"O que é espaço público? E privado? Na contemporaneidade, esses dois conceitos parecem se interceptar o tempo todo. A ideia de privacidade, por um lado, se esgota num mundo em que todas as informações se mostram disponíveis ao público. A partir de 1991, com a proliferação de revistas e de mídias como Caras, Gente Quem e programas televisivos como Big Brother e a Fazenda, entre outros, há mais imagens em que a intimidade é colocada a público.

O espaço que seria público - parques, praças, igrejas - se fecha cada vez mais perante a ameaça da violência potencial. Seu uso abandonado pelo medo ou deixado a deriva, à sombra da solidão urbana. O lugar público, que seria o lugar de todos, passa ao status de lugar de ninguém. É abandonado, maltratado, sujado, ignorado, sucateado. 

O desejo dos artistas contemporâneos de dialogar com os espaços públicos da cidade como forma de expandir suas poéticas fica cada vez mais ameaçado e torna-se um contraponto à ameaça da violência, ao medo, ao isolamento proposto por uma arquitetura de muros, grades e vigilâncias. O grafite é um dos modos mais eficientes encontrados por alguns artistas para furar esse paradigma.  

A origem histórica do grafite remonta à história do ser humano, já que existem registros de sua cultura nas paredes das cavernas e na civilização egípcia. Essa inscrição no espaço público acompanha a própria história da arte.

O grafite propõe, acima de tudo, uma experiencia de estética e fluidez, por ser a arte do movimento, que se modifica junto com dia a dia da cidade"

trecho retirado do livro Espaço e Lugar, de Katia Canton.

quinta-feira, março 15, 2012

Dia da Poesia

Abra os olhos. Respire, sinta, absorva. Ela está ai, ao teu alcance. De graça. Agarre-a. Morda as letras. Mastigue devagar. Ande pela calçada. Limite-se a ela. Apenas ela. Engula a tua voz sussurrada. Lamba as lágrimas. Beba os sorrisos. Entregue-se intensamente. Não há nada mais importante, agora. Apenas ela, a grande dama.

domingo, março 11, 2012

sexta-feira, março 09, 2012

cariocas 1 #

Quase três. Fumava um cigarro mentolado. Pensava na sua condição. Esperava. Olhava para rosa murcha. A flor estava numa garrafa velha. Não havia água. Não havia vodca. Branca, despetalada. Seria jogada fora, no dia seguinte, durante a faxina.Poderia beber uma paixão rasgada. Seria capaz de escrever poemas. Exercitaria o auto-engano. Lá em baixo, o caminhão de lixo fazia um barulho infernal. A ausência. A mesmice. A inércia.O telefone funcionava - calado

blá. blá. blá.


Por quase três meses, fiz pequenas anotações enquanto submergia pelo Rio de Janeiro. Estava com acesso limitado ao blog e sem concentração para me aprofundar nos textos. Substituí os teclados pela caneta. A forma rudimentar/charmosa gerou bons resultados. Aos poucos, estarei expondo por aqui. Aos frequentadores assíduos, a minha desculpa pelo excesso de silêncio. 

Evoé.  

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Como se fosse um vazamento interno. Pinga, pinga, pinga. São lágrimas disfarçadas. Uma dor que escondo só pra mim. Banheiro minúsculo, com box de plástico. Seria possível, escorre-me pelo ralo?

Paixão é palavra inventada para um 

suicídio cometido a dois.

domingo, janeiro 01, 2012

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Fugir pra uma cidade diferente. Abalar as certezas caducas. Pedir uma mudança sincera. Cortar o cabelo. Escrever metas banais. Estar longe de mim para procurar a outra parte. Clamar por organização. Foco. Trabalho. Ter o coração costurado. Ensaiar, de novo, um pulo para o precipício. Calma. Paciência. Poesia. Almejar o sucesso, a independência, dinheiro. Dizer sim, vinte vezes. Beijar na boca. Comprar engov. Cair no mar. Andar pelo calçadão, sozinha. Ler um livro por semana. Olhar as miudezas, o invisível. Procurar a beleza no desconhecido. Pintar a cara com tons fortes. Ser instantânea, personagem. Não esquecer a lama, do barro vermelho, do concreto. Vender livros, pixar muros, declamar palavras feias. Ser repetida, recorrente. Ter 60 dias cariocas. Entender o samba, cantar o enredo. Criar um roteiro maluco. Começar a viver, agora.  

2012

menos delete, mais deleite.