sexta-feira, dezembro 30, 2011

em tópicos

  1. O mar quente que lavou a minha alma solitária em Caraiva.
  2.  A criação do Coletivo Transverso.
  3.  A descoberta/retirada do câncer de pele no rosto.  
  4. O delicioso carnaval carioca e seus amores efêmeros.
  5.  Abertura da sede da Andaime Cia de Teatro.
  6.   Começar a psicanálise.
  7. Matar um grande amor.
  8. A montagem do espetáculo “Poéticas urbanas".
  9.  Lançamento do meu primeiro livro.
  10. A temporada do Serpentes Que Fumam.
  11. Aceitar o novo amor que me abraça.

terça-feira, dezembro 20, 2011

Enquanto o coração clama por um ano novo, a cabeça ainda resolve as pendências do ano velho.

...

As páginas substituídas pelo concreto. Vinte muros pixados. A poesia que eu construía de noite era derrubada pela burocracia de dia. Amaldiçoei os carros, o governo, as pessoas. Queria afogar Brasília. “Reinventar a cidade inventada”.  Matar todos os funcionários públicos, decapitar o poder. Transformar amplitude em afeto, arquitetura em poesia. Clamar por novidade. E os muros, ainda, brancos. Sórdida, sofista, maquiavélica. Montei a minha quadrilha com o apoio dos burocratas. Vândalos libertários ou inconformados burgueses? Rabiscamos poemas, distribuímos pedaços, lançamos perguntas. Viramos micro celebridades anônimas facebookianas e, assim, instalamos a nossa pseudo-revolução contemporânea.  

sábado, dezembro 03, 2011

digestão

s. f.


1. Elaboração dos alimentos no estômago e nos intestinos.

2. [Figurado]  Exame atento; estudo; meditação.

3. Resignação (a injúrias, sofrimentos).

4. [Antigo]   [Medicina]  Maturação dos humores; supuração.

5. [Farmácia]  Maceração a quente.



quarta-feira, novembro 23, 2011

...

Pensei que não acabaria o dia. Que a fraqueza ia tomar conta. Que o choro ia derramar. Que o licor não faria enfeito. Fracassada. Impotente diante aos fatos. Deveria gritaria para surdos? Para os homens sem ouvidos? São apenas bocas e teclados. Pouco importa. Quando a dor é imensa, o ego é inflado.Deveria criticar todas as oligarquias. Entregar a minha dor ao ministério público. Ou poderia também olhar ao redor e chorar a dor do mundo. Ser mais solidário pra disfarçar o meu cheiro de enxofre. Mais uma troca, auto-engano. Porém, odeio os hipócritas, então, prefiro gritar foda-se e tomar um porre.

...pesar do mundo.

sexta-feira, novembro 18, 2011

Câmara Ligada





Hoje eu vou relatar os acontecimentos do programa "Câmara Ligada" da TV Câmera aqui no Blog. O convite para a minha participação no programa aconteceu por causa das ações poéticas da Andaime Cia de Teatro nas ruas. Ao som de Tulipa Ruiz, a Câmara Ligada quer discutir a importância de se fazer Arte na rua. Discutir não apenas sobre os artistas que fogem dos teatros e galerias de arte para dialogar com a cidade, mas também os artistas que encaram a rua como a sua escola. Quantas vezes somos surpreendidos por um malabarista no sinal? Ou uma poesia pixada na parede? Ou um espetáculo teatral no meio da praça? 

Essas ações são chamadas de intervenções urbanas. Elas transformam e embelezam a cidade. É como se a obra artística dependesse da rua para existe. A rua é parte fundamental da obra. A efemeridade, cantada por Tulipa, também está relacionada a esse fazer artístico. A Arte está ali, estampada no concreto, pedindo para ser apreciada, notada, percebida. Para assistir, basta abrir os olhos e encarar a cidade. Mas se você não tiver aberto para cidade, a arte passa e você não percebe. A arte se dá só pra quem se interessa, pra quem abraça a cidade como casa. A rua é o lugar do encontro e da cidadania. Ela é nossa.

Enquanto eu digito essas linhas, a deputada Jandira Feghali (PC do B - RJ), convidada do programa, relata a necessidade de se manter a rua aberta para as intervenções urbanas, e, sobretudo a importância de existir apoios governamentais para esse fazer artístico.

A professora/artista Bia Medeiros disse algo muito interessante: a arte não apenas interage na rua, mas ela também compõe o cotidiano. O empresário que passa pela rodoviária e vê uma artista passando com 20 galinhas, pode não perceber que aquilo é uma obra de arte, mas de alguma forma o questionamento da obra já passou pela sua cabeça. Ele se pergunta: Porque esse maluco tá com um monte de galinha pendurada?! E segue o seu dia, provavelmente ele inclusive vai relatar o fato para sua família mesmo sem saber que aquilo é uma obra de arte.  

Aqui no programa, a Andaime está realizando um SQF, queremos realizar uma festa de aniversário, sem que a produção e apresentadora, saiba o que está acontecendo. A Tatiana, atriz com bolo, vai tentar encontrar um aniversariante aqui na platéia, se a tal pessoa aparecer, a gente canta os parabéns. Senão, o SQF será realizado fora do programa, nos corredores da Câmera. Enquanto isso, o programa continua com os nossos balões de gás Helio enfeitam a decoração. O diretor Francis Wilker fala sobre o Teatro de Invasão,  que muitas vezes, utiliza a cidade como dramaturgia. Os atores criam a obra sobre a cidade e para a cidade.  Criando beleza para quem passa. 

As perguntas continuam dentro do programa, e o debate sobre a arte se aprofunda. Tatiana consegue o microfone e realiza a nossa ação: " Tulipa Ruiz, é seu aniversário?" A simpatia da cantora encanta e ela compra a nossa ação. Diz que é aniversariante. Palmas gerais. Confusão. Euforia. Nossa atriz, pede então o RG. Mais risos. "Não há nenhum aniversariante na plateia?" Não. Nada de parabéns, então. Nossos atores seguem para os corredores da Câmera. Eu continuo no estúdio, relatando nesse blog, o programa. Tulipa canta mais uma música, eu cantarolo no computador. A platéia vibra. Seguimos efêmeros e felizes! =]

beijos

sábado, novembro 12, 2011

Leve um entreaberta para as suas férias.


Venda do livro através desse blog. Não se preocupe a compra é segura. Basta depositar a bagatela de 25 reais na conta da tal poeta, e você receberá o seu exemplar em casa. Via correio. Em 5 dias. Aceito encomendas para Natal, Ano Novo e Funeral. =]

Pra a entrar em contato, mande e-mail para patriciadelrey@gmail.com

quinta-feira, novembro 03, 2011

Coletivo Transverso


Ontem recebi a boa notícia que o Coletivo Transverso foi aprovado por mérito cultural pela Secretaria de Cultura do DF. O projeto é o primeiro colocado da sua categoria provando que a arte urbana está conquistando espaço/respeito das políticas públicas culturais.  Embora as intervenções, por sua própria natureza, tenham um caráter subversivo, o patrocínio é importante para garantir a pesquisa e a sobrevivência dos artistas envolvidos.
Sei que muita gente critica o apoio dos órgãos públicos para práticas de intervenções urbanas, sobretudo quando está ligado ao grafite e stencil (para muitos, ainda chamado de pixações). Mas será que não é interessante investir em um museu a céu aberto, com entrada franca, que dialoga com a cidade e o seu ritmo? Como medir a fruição de um espectador que passa de carro sempre no mesmo trajeto e, um belo dia, é surpreendido por uma poesia estampada no seu caminho rotineiro?
Talvez esse movimento interaja de forma mais eficaz com o espectador contemporâneo. Já tive oportunidade de escutar depoimentos impressionantes sobre o trabalho do Transverso. Como aquelas intervenções modificam os dias e caminhos dos passantes. Por não haver rosto/assinatura e por estar na rua, o trabalho do coletivo passa ser de todos os apreciadores.   


Pra saber mais:

O Coletivo Transverso é formado por artistas de áreas diversas. O principal conceito norteador é o de ataque poético e propõe a reflexão sobre as possibilidades de utilização do espaço público a partir da arte urbana não encomendada. A busca é colorir a cidade através de poesias e imagens. Se você mora em Brasília, já deve ter se deparado com as tais frases (gentilmente) pixadas nos muros e tesourinhas. Se não é daqui, pode ter acesso através do blog ou na página do facebook


Boa quinta-feira =]

quinta-feira, outubro 20, 2011

...

De novo aquela dor. Nem pra esquerda, nem pra direita. No mesmo lugar: o centro. Era o peito que doía. Deveria estar relacionada ao chacra cardíaco, a energia contida. Não era exotérico ou macumbeiro. Não sabia dessas coisas de almas, incensos, rezas e afins. Apenas sentia. Sentia muito. Aquele espaço ausente que ele tentava esvaziar ainda mais. Que dava pontadas em noites chuvosas, que aparecia à surdina para o jantar com a namorada, que o fazia chorar escondido. O centro coberto de passado. De fungos que deveriam ser arrancados pela sua mão, sem testemunhas oculares. Os desejos que se entranhavam nas paredes imaginárias daquele peito semi-aberto. Como desintoxicar um coração contaminado por um amor poluído? Perder um vício? Matar um câncer instalado? Os hábitos certificavam a loucura. Diariamente, ele procurava outros sinais. Uma palavra que ainda podia estar escrita no porão. Um som agudo que certificasse a agonia latente, desconcertante. Ele revisitava o centro para lembrar a felicidade. De quando desejava a morte pós-gozo, por saber que nada mais faria sentido depois daquele ato de transgressão e verdade. Quando se ama, pede-se a morte... diariamente. O corte derivava das escolhas. Das dúvidas imaturas. Do ímpeto do ponto final.  Ele sentia o desconforto. E de alguma forma, esse incômodo, o fazia sorrir. Aquela dorzinha que ele tentava limpar (inutilmente) era responsável pela esperança. Nem pra esquerda, nem  pra direita. Mas, no centro. Era lá, que ele matava a saudade, todos os dias.  

sexta-feira, outubro 14, 2011

domingo, outubro 09, 2011

pedaços de ipês brancos

Entrou sozinho no café. Escolheu a mesa de canto. Havia duas cadeiras. Afrouxou a gravata. Pediu uma garrafa de champanhe e o cardápio. Era quarta-feira. O garçom trouxe duas taças, mas serviu apenas uma. Costume de garçom: trazer duas taças quando se pede champanhe. Escolheu o melhor prato. Pediu o filé ao ponto pra mal. Gostava de jantar ali nas quartas-feiras. Passava três dias da semana na cidade requentada, e sempre as quartas, ele ia ao mesmo café. Era uma maneira de instalar a rotina em um lugar que não o acolhia tão bem. Um espaço íntimo no meio da ausência. Ele, o filé, o champanhe. E o garçom que sempre trazia a indelicada segunda taça. Era uma ironia em forma de deslize. Pouco importava. Depois de algumas separações, entendemos outros sabores na solidão.  Havia um lançamento de livro. O bistrô estava cheio. A autora devia ter menos da metade da sua idade. E os outros clientes também. Por pura simpatia, decidiu comprar o livro. Vinte reais. Era 25% do valor do champanhe. Literatura barata. “Seu nome?” – ela perguntou, entre sorrisos. Não respondeu. “Dedique a você”. Ela rabiscou três frases sinceras. Escritores captam as almas perdidas. Voltou para mesa. Comeu a última garfada. Leu as primeiras páginas. Chegou à página 33. Pediu um expresso com chantilly. É preciso adocicar ainda mais alguns encontros. Tomou, de forma delicada, o café. Escreveu um bilhete. Pediu a conta. Passou o cartão. Caminhou em direção do encontro. Entregou a sua poesia. Dispensou o taxi. Decidiu caminhar as três quadras. Havia tempo. E pedaços de ipês brancos.



não basta amar. É preciso por no facebook.

terça-feira, outubro 04, 2011

Silêncio de duas semanas para a passagem de um furacão


poéticas urbanas- by Diego Bresani


Lançamento, críticas, elogios, explicações, perguntas, entendimentos, entrevistas, sorrisos falsos, sorrisos verdadeiros, visita de Vó, prima, papagaio. Outras propostas de lançamento, necessidade de organização, orelha anônima, distribuição de livros, vendas, pensar no preço, entender a força do dinheiro, a necessidade dele. Será que para expandir a poesia é preciso ser burocrata? Escrever três FAC em quatro dias, fazer planilhas, pedir orçamento, encarar o salic web. Outra estréia. Poéticas Urbanas. Montagem e desmontagem em quatro cidades. Um gerador quase roubado. Força, coreografia, voz, equívocos, cortes, fazer de novo, oito vezes pra vê se fica bom, mais críticas, mais elogios, chão, concreto, assobios, uma mulher que grita e sangra. Maminha, picanha, alcatra. Ser considerada feminista. Eu? Julgamentos, análise, divã. Estamos sempre escrevendo a estória no nosso corpo. Chocolate, TPM, quereres. Festival de cinema. Abertura, filmes, luta diária. Encontro real com um desconhecido íntimo. Desejo de descobrir, de sentir o gosto, o cheiro. Entender a impossibilidade, o momento certo, a hora exata. Deixar para outro dia, quem sabe outra vida. Não julgar o sentimento do outro. Não se julgar em excesso. Passar dois dias inteiros na ebúrnea. Gritar a liberdade. Entender o preço dela. E clamar por uma companhia, pelo desejo sincero de uma construção, uma conversa profunda. Planejar as férias na argentina. Sozinha de novo. Ter medo do outro, de todos os outros. Mas querer de verdade o encontro. Ser piegas, mulherzinha. Entender a adolescência do Leminski, tomar um  petit gateau, comemorar a chuva, Brasília cinzenta, melancólica, com direito a café no final da tarde. A tristeza espalhada por todas as quadras. Escrever no blog. Há tanto a dizer. Queria ter postado o bilhete que recebi com uma crônica já imaginada. Não tenho tempo pra sentir, agora. Preciso de silêncio. De organização. De madrugada. Quando poderei respirar em paz? Planejamento financeiro, entrega de currículo. Quem sabe um curso novo? A mesma ideologia. Abraçar o mundo, egocêntrica e desesperada. Alugar um apê, comprar uma vitrola e dizer pra que veio. Depois clamar loucamente por outro furacão. Outro. E outro. Quantos forem necessários para que a vida ainda nos traga movimento e surpresa. É isso e mais monte de palavras.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Entrevista 1

Acabei de receber a entrevista que realizei para o Renato Acha. Adorei o resultado. É muito bom quando você consegue dialogar com um jornalista de forma sincera. Conversar, debater sobre o trabalho, sobre a cidade, sobre a vida. Amei. Gostei tanto, que posto aqui:


Acha – Qual a identidade de sua poética?


Patrícia Del Rey – “Os homens vêem a sexualidade no meu texto, a mulher a identificação, a dor. O poeta coloca uma lente de aumento na realidade. A poesia está em toda parte, no ipê no meio do eixão, mas poeta vai lá e escreve: ‘aqui, as flores nascem do concreto!’ - e as pessoas acham isso lindo, é simples. Tá ali, todo mundo vê, mas é preciso escrever para que as pessoas lembrem da poesia. Entende? Daí falo desta relação entre linguagens, no fundo temos sons imagens e cores mas a palavra os torna viventes”.


Acha – Fale mais sobre o olhar feminino e o masculino sobre sua obra.


Patrícia Del Rey – “A coisa da diferença das mulheres e dos homens é o seguinte: Fiz um conto erótico de uma mulher que se relaciona com um homem casado pela internet, uma coisa boba, de web cam, sabe. A ideia era trazer a internet pro texto e por no blog, trabalhar o imaginario das pessoas. Não tem verdade ali, assim, na prática. Mas tem toda verdade do mundo, porque tá escrito, e muitas pessoas já fizeram, mas é uma mulher apaixonada por um homem casado. Quando o publico feminino lê, sente a dor. Está ali, antes do sexo. O homem fica de pau duro. Eles se tornam aqueles personagens e o poeta tem a função de sensibilizar o outro. É como o ator, o artista. As pessoas querem sentir é isto”.



Acha – Como foi a compilação do material para integrar o livro?

Patrícia Del Rey – “Fechei o livro com 80 páginas e tive um grande amigo, que agiu como meu guru, o Henrique Rocha. Ele me ajudou a escolher e montar. Teve uma hora que eu pirei! Difícil tarefa, porque somos muito repetitivos, tanto na vida quanto nos textos. E tem textos de 2007. Aí você lê e fala: Quem era essa pessoa que escreveu isso? Eu não sou mais essa, e você vê a qualidade e corta, reescreve, pensa de novo. A  gente muda e não se enxerga mais o mesmo, como no teatro. Algo efêmero, mutável. Você estreia e vai mudando, sedenta pela vida, pela arte e pelo amor. Na literatura você não tem a oportunidade de mudar. Porque você imprime né? Um blog, você deleta. Um livro não, ele perdura, ele marca um tempo. As poesias já não são mais suas. São do outro, daquele que lê”.

Acha – O tempo tambem é leitor.

Patrícia Del Rey – “Eu não vou ler o livro. Só daqui a dois anos. Brasília é um papel em branco, há muito espaço para o novo, para a poesia, para a arte. A gente pode escolher as letras, pois tem espaço para todos. Eu amo Brasília!”

Acha – Você nasceu aqui?

Patrícia Del Rey – “Não, sou baiana, mas me considero candanga. Somando indas e vindas tenho 20 anos de Brasília. A cidade tem 50. Acho que faço parte da geração dos novos candangos”.

Acha – Muito bem vinda!

Patrícia Del Rey – “A gente escolheu construir a cidade, porque temos uma função social importante aqui”.

Acha – Adotou a cidade e incorporou sua forte personalidade.

Patrícia Del Rey – “Sim. Criar o sotaque”.

Acha – Adorei ouvir isso!

Patrícia Del Rey – “Com certeza. A gente não anda na rua em Brasília, só de carro. Você não gosta disso? Mude! Mude a cidade. Você é a cidade. A rua é sua”.

Parto 2



"Entreaberta é uma soma de textos publicados em blog literário, de comentários dos leitores, de stencils pintados nas tesourinhas, de cenas e músicas criadas para o espetáculo Poéticas Urbanas. Está tudo misturado: A cidade, o amor líquido e o feminino. São mulheres passageiras de um inferno particular. Poesias transformadas em cenas ocupam as ruas desertas. Aqui, tudo é romance, Brasília é poesia concreta."


Serviço

Dia: 21/09/2011 - HOJE
Local: Rayuela Restaurante Cultural
Hora: 19h30min 

terça-feira, setembro 20, 2011

Parto 1



É clássico. Ninguém dorme na noite anterior à estréia. Pendências, medos, contrações. Parece que deitar na cama se torna pesado e estranho. Não adianta contar carneirinhos. Quando a ansiedade bate, não há ensaio que resolva. Depois de tanto tempo fechados em um processo umbilical e cansativo, temos a chance de mostrar o nosso pequeno monstro para olhares diferentes.

O primeiro encontro. Aquele momento que você deseja muito, mas sabe que talvez por nervosismo, fale besteiras ou quebre a taça na hora do brinde. E se isso acontecer, você vai ficar sem graça por um momento, mas depois vai rir da situação. Porque haverá outra oportunidade. Outros encontros. Outras pessoas. Talvez as mesmas. Com o coração mais aberto, e você com o discurso mais conciso.

Pra mim, um espetáculo sempre nasce prematuro porque o público é parte fundamental do processo. Dialoga, sente, demonstra. O teatro (como amor!) só acontece quando o outro te olha. Conversa, exibe a delicadeza, aceita comungar. E por mais contemporânea que seja a obra, o artista quer ser entendido. Transformar você. E isso não está relacionado à carência, e sim, a ideologia. Não há sentindo nenhum em realizar monólogos egocêntricos quando se há tanta vida para trocar.

Hoje, a gente espalha a poesia, pede o toque, o teu olhar aberto. Que seja a primeira de muitas apresentações. Um brinde ao Poéticas e a Andaime! Evoé! =] 


Serviço:
Águas Claras
Estréia dia 20/09 (hoje) as 19h e as 21h,
na Avenida Araucárias, lote 1525, na Praça do Edifício Metrópole.
Entrada Franca!

segunda-feira, setembro 19, 2011

Quer mais um pedaço?




Durante o processo do Poéticas Urbanas, a Andaime Cia Teatro realizou um ensaio fotográfico. A ideia era transformar as poesias em fotos, e utilizar as imagens no espetáculo. Pra isso, convidamos o Diego Bressani. E lá fomos nós, tiramos a roupa, entregamos. Fomos sinceras, autênticas. E ele, precioso. O resultado é poesia. Os olhos do Diego captam os textos. A gente se abre, conversa, fala besteira. Dá boas risadas das rimas improvisadas. Corremos num corredor bem brasiliense e gritamos as nossas dores. É fácil exibir a verdade para câmera. Ela vira amiga íntima, confidente. De alguma forma, o fotógrafo desaparece ali. Somos apenas mulheres, filosofando sobre a vida. Ele observa, em silêncio. Cede lugar, conduz a delicadeza. Será que há algo mais bonito que um corpo nu preenchido com as palavras certas? 

Aconselho que visite o link, antes de responder:

http://diegobresani.wordpress.com/

=] 

terça-feira, setembro 13, 2011

...

Dias ansiosos de alegria e medo. De mudança. Assumir posições, lugares, escolhas. Dizer pra que veio, sem mesmo saber o porquê veio. Ter vontade de fugir. De sair à francesa. De inventar um curso do outro lado do mundo. E ao mesmo tempo, planejar abraços mais fortes aqui. Escrever mais, com mais qualidade. Escancarar o que as pessoas fingem não entenderem. Dividir a loucura com coragem. Ser responsável pelo grito. Entender a mediocridade humana. Esquecer essa seriedade imposta por uma sociedade hipócrita. Se permitir o erro. O processo. O tempo. Não aceitar o raso, a superfície instantânea. Chorar compulsivamente. Acreditar em ideologias gastas. Aceitar a vaidade. Matar o superego familiar. Se questionar os porquês. Entender que só é possível com amor. Mesmo que pareça clichê e imaturo. Tomar um porre de conhaque barato. Se assumir do jeito que você é. Transbordar as qualidades e os defeitos.  Achar seu lugar na cidade. No mundo. No outro. Em si. Não levar nada tão a sério. Pedir mais muros para pixar. Martelar concretos armados. Achar as frestas, os caminhos desconhecidos. Beijar a crise. O caos. A oportunidade de mudar tudo, de novo. De rever o seu reflexo no espelho. E pedir mais dias ansiosos de alegria e medo.

terça-feira, setembro 06, 2011

vamos?

Sobre silêncio e gravidez


fotografia de Diego Bressani - Poéticas Urbanas

Sim, o blog está em silêncio. Ando sem tempo para poesia. Elas aparecem, cumprimentam e partem. Eu não me apego. Deixo passar. É como se não houvesse espaço suficiente para escrever. Continuo sentindo a presença, mas a tela fica branca. Talvez o fato seja transformado apenas depois de finalizar a minha gestação. Peço paciência aos leitores/visitantes.

Foi na 28ª semana que enviei o pedido de cadastramento no ISBN. Serei escritora de verdade - segundo as convenções. Engraçado. Lembro de quando recebi o diploma de interpretação teatral. O papel certifica de alguma forma a minha competência, mesmo que não se consiga nenhum personagem por ter aquele documento na mão. É preciso fazer o cadastro? Eu fiz. Espécie de pré-natal. E não é que até na burocracia toda houve certa emoção velada? A partir do recebimento do número terei uma nova palavra para lacunas profissionais: escritora.

Houve outras coisas bem mais legais e interessantes na semana passada. Como o projeto final do meu filhote. Quase um ultra-som. O Rafael Braga arrasou na diagramação. Uma delicadeza primorosa. Em cada página, eu percebo suas mãos sensíveis. Outro toque especial foram as belas fotos do Diego Bressani. Apenas três, mas que dialogam com todo o conceito do livro. Também recebi uma gentil e instigante orelha de um poeta brasiliense. Enfim, muita emoção pra uma mulher grávida.

Meu primeiro livro. Ler/falar/escutar a tal frase ainda me assusta. Gosto de dar importância, afinal, é um desejo antigo. Cozido ao forno brando, com temperos refinados. Não é um acontecimento banal. Tem valor imenso, independe do caráter literário e estético. Será entregue para o mundo, mas terá a minha cara. A vaidade impressa. E sim, isso dá muito medo.

Poderia continuar a exposição de todas as minhas angustias. Ou falar das outras semanas. Das duas próximas, em especial. Do orçamento, da boneca, da última revisão. E principalmente, sobre o nascimento no dia 21 de setembro/1º dia da primavera no Rayuela.  Mas como as grávidas ficam mais sonolentas nos últimos meses, deixarei para os próximos posts, ok?

beijo ansiosos, barriga cheia de vida.

domingo, agosto 28, 2011

maquina de escrever;

..

Pode parecer estranho, mas eu não gosto de sábado. Principalmente das suas madrugadas secas. Quer dizer, não é que não gosto. Apenas não o entendo da forma tradicional. Gosto de outra maneira. Tenho sábados solitários. Prefiro ficar em casa. Ler, estudar, escrever. Há um estado melancólico no quarto. O telefone toca. Diversas vezes. E eu, o silencio. As pessoas são vidradas em sábados noturnos. Não respeitam a minha necessidade de solidão. De confinamento. De pausa. É tão calmo estar entre as cobertas, comendo algo ou tomando uma dose. Parece que a vida se cala nessas noites. E como se eu estivesse sozinha no mundo. Sem família, amores, pendências. E como se eu me encontrasse pra bater papo. Ou encontrasse alguém, um sábio, nas linhas do autor escolhido pra noite. Hoje, faço amor delicado com o Húngaro. De verdade, Sándor Márai. Ele me doutrina sobre amor, solidão e dinheiro. E eu abro as minhas pernas e sorvo a sua literatura. Deixo aqui parte, das palavras que ele sussurra no meu ouvido:

Um dia despertei, sentei na cama e sorri. Nada mais doía. E de súbito compreendi que não existia mulher de verdade. Nem na terra nem no céu. Não existe em lugar algum, aquela. Existem apenas pessoas, e em todas há um grão da verdadeira, e nenhuma delas tem o que do outro nós esperamos e desejamos.

quarta-feira, agosto 24, 2011

Novo Layout


O que mais me fascina na fotografia é a possibilidade do fotógrafo de captar alguns instantes de alma daquele outro corpo que se expõe. Existe milhões de cursos, técnicas e afins. Mas nada substitui a sensibilidade. Acho que é o caso das fotos do novo layout. As lentes de Diego Bressani engoliu a minha alma na fresta dessa parede. Na verdade, acho que ele é um engolidor de almas, principalmente quando passeio pelo blog dele. Bom, é isso. Fica a dica: http://diegobresani.wordpress.com/

Por duas vezes.

Hoje, eu pensei em você. Não queria. Mas pensei. Por duas vezes. A primeira, eu estava dirigindo, indo para o trabalho, passando perto do Iate. Você veio na minha cabeça. Um acordo de paz. Cogitei mandar um e-mail, um livro. Contar as peculiaridades, as bobagens diárias. Tentar explicar que o meu silêncio não era por falta de amor, mas por falta de coragem. Que eu não te odiava, que entendia as suas razões, mesmo sem aceitá-las. Que poderia ser eu, a culpada. Mesmo que essa palavra culpa fosse apenas um conceito cristão; Desculpa para indisponibilidade de aceitarmos os limites. Talvez, eu que fosse covarde. Fraca. Indisponível. De qualquer maneira, hoje, me permitia pensar em você. Pela primeira vez, desde a despedida. Ter saudade. Lembrar do gosto, do cheiro. De uma dança no meio da esplanada, enquanto eu vestia um chapéu marrom. E também da couraça que o seu corpo adquiriu, em poucos meses, sem a minha leveza. Dos seus olhos que ficaram opacos. Da impossibilidade de mudar o seu presente. Tive pena de você. Quis te pegar no colo, mostrar o caminho certo. Eu poderia te salvar da mesmice, aplicar um “ideal” qualquer, devolver o brilho. Ai, nesse momento, eu tive pena de mim. Pelo meu ego gigantesco. Pelo meu instinto maternal. Por pensar ainda, por duas vezes, em você. 

segunda-feira, agosto 15, 2011

domingo, agosto 14, 2011

Enfim, o prefácio!

Cinco anos. É a idade do blog entreaberta. Um espaço virtual de construção diária: fantasias quase verídicas, realidade manipulada, compartilhamento com desconhecidos íntimos. É o meu mundinho egoísta. Uma fresta. A minha fresta. Com a porta entreaberta. Entra quem quer. Quem se faz parte necessária. Quem entende o valor do perecível. Aqueles que a encontram em madrugadas frias, que sentem a dor de sábado na frente do computador.

Um blog é frágil. Agrega a covardia também. Basta clicar no botão, e extermino todas as partes. Viro lembrança, página não encontrada. Eu apago a poeta que existia ali. Assumir um livro é outro passo. É estar na prateleira, etiquetada, embalada pra presente. É se por à prova. Tatuar letras permanentes. Imprimir uma parte de si. A parte escolhida. Marcar o tempo que passou. É ser palavra sem prazo de validade. Assumir os erros poéticos. Aceitar o receio do olhar perante a pele marcada. É ter coragem imbuída nas entranhas. Aprovar os seus defeitos na frente do espelho. É assumir um casamento até o fim.

Esse livro é uma soma de textos publicados no blog, de comentários dos leitores, de stencils pintados nas tesourinhas, de cenas e músicas criadas para o espetáculo Poéticas Urbanas. Está tudo misturado nas páginas seguintes. A cidade, o amor líquido e o feminino. São mulheres passageiras de um inferno particular. Poesias transformadas em cenas ocupam as ruas desertas. Aqui, tudo é romance, Brasília é poesia concreta.

sábado, agosto 13, 2011

quando os sonhos se realizam...


Ontem, enquanto terminava de arrumar a sede da ANDAIME Cia de Teatro, meus olhos derramaram. Depois de três dias, com a mão na massa, na tinta, na furadeira... enfim, está quase tudo pronto. Nosso cantinho desenhado por várias mãos. As cores espalhadas, o gosto da conquista. Sabe quando você chora de felicidade? Eu sentada, sozinha, escutando Amy, com uma Heineken na mão (ainda suja de tinta vermelha), com um sorriso sincero no rosto. Logo, eu lembrei do meu primeiro grupo de teatro, quando eu tinha 8 anos de idade. Durante 4 anos, eu encenava peças para os vizinhos. Dirigia, coordenava, interpretava. Tinha certeza que  esse seria o meu trabalho, a minha vida. A minha mãe incentivava a minha brincadeira, apesar de não levar a sério e querer uma filha médica. Mas EU LEVEI A SÉRIO. Sou idealista, romântica, sonhadora e tenho uma força do caralho. Tinha certeza que era possível, que era real. Quando há comprometimento, nenhuma barreira é grande o bastante. Coloquei fermento, acreditei no trabalho. E enquanto as amiguinhas, traçavam as possíveis festas de casamento, eu desenhava o tal grupo de teatro. Criança teimosa é uma merda, né? Elas são capazes do inacreditável. Parece que eu cresci, mas não se esgotou a vontade de brincar. Veio a UNB, um curso de nutrição abandonado, a licenciatura, o quase desistir, uma proposta de casamento, a literatura pra curar, a escolha pelo teatro e na reta final do curso, o encontro com outros sonhadores. Cinco anos de ralação, falta de grana e conselhos sobre concursos públicos. "Se continuar assim, você nunca vai poder se sustentar, casar, ter filhos, ser alguém, uma pessoa normal.  Ainda mais fumando maconha, meu deus. O que eu fiz pra merecer isso? Foto pelada na internet, pornografia escrita. Você pode ser presa se continuar pixando os muros, sabia? Você é muito ingênua mesmo. Será que você não vai sair da adolescência nunca?". O Leminski disse que sairia com setenta, mas ainda bem que ele morreu de cirrose aos 44 anos. Lorca afirmou que a vida é sonho. Os Mutantes cantam que as pessoas da sala de jantar estão ocupadas (APENAS) em nascer e morrer. Ainda bem que a minha adolescência não passou, que eu acredito em amores eternos, na fidelidade, no sonho, em arriscar de novo, em mudar o mundo. Porque a vida sem floreios/ideologias é inútil. Uma pena que algumas pessoas  só saberão disso, quando estiverem numa cama, com a piedade dos parentes ao lado e gastando a sua pequena "fortuna" acumulada em dias entediantes. Se você é uma dessas ou não, aproveite pra ver o por do sol hoje, escutando um bom jazz. A vida é agora, baby.  =]


um beijo longo.

quarta-feira, julho 27, 2011

Prosa bucólica no Centro

Não queria sair dali. Preferia ficar deitada naquela cama emprestada. No apartamento que, de certa forma, era deles. Estavam trancados há cinco longos dias. Nem o sol, nem a praia, nem o pão de açúcar. A sua felicidade se resumia na conjunção com um corpo específico de sotaque diferente. Cada risada, cada apelido inventado. O chocolate dividido entre as bocas irmãs. Havia um oceano particular a ser desvendado a cada musica que tocava na vitrola. 


E agora ? - ela pensava em silêncio.


Imbuída de carnaval, havia a certeza necessária para tracejar um plano impossível: um romance digno daquela estante. Ela gostava do móvel branco. E pela quantidade de autores, desconfiava que o dono legítimo do quarto fosse um bom escritor. Às vezes, quando teu amor dormia, ela levantava, escolhia um livro e abria páginas ao acaso. Por milagre, lia apenas palavras belas. Eram como se a poesia construída naquele apartamento já estivesse escrita em todos os livros da estante. Ficava calada, de olhos atentos. A poeta de meia tigela virava leitora entusiasta. Ela suplicava que aquele homem não a acordasse naquele instante.


Pra quer escrever romances, quando se vive um?

domingo, julho 17, 2011

Manual para reciclar o domingo III

Manual para reciclar o domingo II

Manter a mente vazia é uma proeza, e uma proeza muito saudável. Estar silencioso o dia inteiro, não ver nenhum jornal, não ouvir rádio, não escutar tagarelices, estar perfeita e completamente ocioso, perfeita e completamente indiferente ao destino do mundo é o mais excelente remédio que um homem pode administrar a si mesmo. Os jornais engendram mentiras, ódio, ganância, inveja, desconfiança, medo, maldade. Nós não precisamos da verdade como ela nos é servida nos jornais diários. Precisamos de paz, solidão e ociosidade.

Henry Miller

...

Um mês, anestesiada. Como se estivesse faltando luz e o cansaço impedisse de acender uma vela. Esse estado meio-termo a proibia de conversar com outros autores. Estava rasa, era desnecessária. Nada de palavras emboladas e analogias chulas. Contorcida pela seca, a cidade decretava o silêncio. Compartilhava mutilações e obrigava o pagamento de imposto. Ela devia fazer parte da merda. Deveria mencionar as repetições? Havia uma seqüência de fugas alcoólicas imbuídas por rostos desgastados. Depois da quinta dose, a inspiração pinta, mas a preguiça impera. Teria coragem para cutucar a ferida outra vez?  Era preciso tomar meia garrafa de conhaque para que ela pudesse chorar. Não que a dor tivesse cessado. Continuava ali, intacta. Mas não havia motivo de compartilhá-la com ninguém. Nem com possíveis leitores. Aquele nome não seria mais pronunciado. Preferia morrer de sede. Não permitia elucubrações. A felicidade deveria mudar de e-mail.

domingo, julho 03, 2011

Drummond não foi Vinicius de Moraes

Não gosto de encher o blog de referências ou textos de outros autores. Mas hoje, tinha que postar essa crônica do Carpinejar aqui. Boa leitura pra todos. Na falta de cicuta, tente Mentos com Coca-cola. 

"Há homens infiéis que são mais monogâmicos do que os fiéis. Antes que alguém me acuse de disparate, explico. Lembro de Drummond que durante trinta e seis anos teve uma mesma amante, Lygia Fernandes, não interrompendo seu casamento de meio século com Dolores.Ele entrava na residência de sua namorada em Ipanema como um marido regrado. Sempre de tarde, após o serviço no Ministério da Educação. E voltava de noite para seu apartamento em Copacabana, poucas quadras dali, com igual severidade, aos braços de sua mulher. Sofro com sua hesitação – curta no tempo, longa no espírito – diante das chaves em seu molho no momento de abrir a porta.Não bastava uma casa, ele ajudava duas. Duplamente monogâmico. Fazia o tipo conservador. Nenhuma das duas mulheres o poderiam trair. Mas não julgava traição estar entre as duas.Não fugia de um casamento por uma aventura, fugia de um casamento para outro casamento. Deixava uma estabilidade para uma outra estabilidade. Deixava os problemas de um lar para os problemas do outro. As contas de um pelo outro. As preocupações de um pelo outro.Nossa… Não posso classificá-lo de amante, mas de doido pelo matrimônio, incapaz da infidelidade que deveria ser provisória.Ele não aspirava ao sexo casual, ao prazer momentâneo, à euforia inconseqüente, buscava o compromisso. Qualquer rua o levaria ao cartório. Ele não se apaixonava de cara, ele amava de cara, sem curso preparatório para noivos.Não percebia que quando a amante passava a recebê-lo em casa, ele já era da família. A comodidade o embaraçava.Não o vejo dotado da indiferença, preparado emocionalmente a não atender o telefonema e enterrar as suspeitas. As suspeitas o enterravam.Suscetível às ameaças, ao charme da carência, à inteligência da culpa. As mulheres transformadas em filhas, em que ele tenta igualar a criação e a distribuição de mimos.Ao toque de um interurbano secreto, saía correndo. Tinha emergências de um cardiologista (e era enorme o risco de morrer de coração). Ele apegava-se, enraizava-se, moldava-se e não largava mais. Ele nunca escolhia, acumulava.Conheço homens que são tão apaixonados pelo casamento que mantém duas ou três histórias duradouras. E a duplicidade só será descoberta no velório, quando é perigoso apontar qual é a verdadeira viúva. Todas choram com ímpeto espartano, e acariciam as alças com os caprichos de uma aliança.Eles não estão procurando encontrar algo que falta no casamento, e sim repetir o que encontraram. O lado bom e o ruim. Não duvido que o lado ruim mais do que o bom. Talvez se sintam tão ameaçados pela desvalia, carentes, que multiplicam suas estradas e criam cadernetas de poupança para evitar uma das falências.Se um casamento é complicado, pesaroso entender o esforço de sustentar dois ao mesmo tempo. Ele trocará lâmpadas em duas casas, matará baratas em duas casas, pagará duas vezes IPTU, abrirá os potes de pepino em duas casas, trocará a resistência do chuveiro em duas casas?É muita valentia. Ou burrice.Reclamar que não há nada na geladeira eternamente e freqüentar o mercado mais vezes do que um caixa. Será que um cachorro o esperava em cada área de serviço com lambidas no rosto?Como não se confundir no sono, não soltar um nome fora de hora? Não embaraçar o que foi vivido num bairro do que foi vivido noutro? Não denunciar que não conhece um restaurante quando o garçom se aproxima com indisfarçável ironia? Não se tornar paranóico com seus conhecidos, querendo eliminar as suspeitas?A memória tem que ser prodigiosa, para decorar as datas de aniversários das mulheres. Não me refiro a um dia, que seria fácil, porém o imenso e repetido calendário que envolve os cuidados amorosos. O dia do primeiro encontro, o dia do primeiro beijo, o dia da primeira transa, o dia de morar junto. Eu já fiquei cansado ao simular. Na hipótese dele se esquecer de alguma delas, estar pronto para discutir o relacionamento. Imagina brigar em duas casas? Largar uma discussão para começar a seguinte, com motivos e ciúme parecidos. Passar a vida se explicando, em crise, e se explicando sem ter razão.Coitados dos homens que não conseguem se separar, e se casam e se casam com os casos para caçar loucamente o amor de qualquer jeito. Qualquer jeito não é amor."

Dança

terça-feira, junho 28, 2011

quinta-feira, junho 23, 2011

só hoje

de alguma forma, 
eu queria ser outra

Cuide de Você


Conheci Sophie Calle pelas mãos de um amigo. Ao ler Histórias Reais, me identifiquei totalmente com o trabalho da artista e virei fã. Hoje, revirando as gavetas atrás do meu passaporte, encontrei uma "carta" que recebi na exposição Cuide de Você. E logo após, encontrei essa performance no youtube. Achei incrível. Deu vontade de copiar para divulgação do entreaberta. 

ausência, deserto e cereja.

A luz estourada, os personagens vazios. Tento desligar o motor do meu carro. Andar pelas quadras, escutar outros sotaques. Todas as pessoas são interessantes, num primeiro momento. Enquanto a vida segue numa via expressa, eu acalmo o meu animal com a música de outra pessoa. De várias pessoas. De todas as pessoas. Não há ninguém de verdade. E a minha música desafinada?

Eles queriam criar uma cidade nova, mas havia um deserto. Era preciso atravessar um longo espaço vazio para chegar até o ponto. Quanto mais se caminhava, mas se perdia. Adentrava o deserto; se enfiava na ausência. Eles não podiam voltar ao início. Deveriam transformar a (lenta, longa e inevitável) morte em uma festa para convidados passivos.

O fato de não prestar atenção nas árvores faz como que o motorista continue infeliz. E a sua mulher, insatisfeita. Quem enxerga as peculiaridades, saboreia melhor as dobras. Um homem só perde o medo da morte, quando encontra o amor. É como se essa miudeza que chamamos de vida adquirisse sentido verdadeiro. A vida é cereja doce que desmancha na boca.

O sol esconde o frio da cidade. Sabemos que estamos gelados quando andamos pelas sombras. Estamos escondidos nesse amplo espaço. Só duas coisas importantes: o amor e a perda. O amor não garante a minha felicidade, mas sim a constatação que estou viva. É sempre o mesmo tema. Não posso dar aulas sobre amor e existência. Agora, eu peço licença para desaparecer do mundo e chorar em cima do meu telhado de vidro. 

segunda-feira, junho 13, 2011

quarta-feira, junho 08, 2011

amor líquido


minha intervenção realizada na tesourinha da 216 norte 
uma pequena homenagem a Dona Esmeralda e os seus 3 dias.

...

mudar de casa, trocar de blog, matar um amor, quebrar o padrão, publicar um livro, reler os textos, achar que o mundo é uma merda, ser uma merda, ter 800 reais pra passar o mês, renovar carteira de motorista, pagar a três multas, pagar IPVA, pagar seguro do carro, abrir uma empresa, fazer pós-graduação nas horas vagas, ser solteira no domingo, ser solteira no sábado, ser solteira na segunda, sorrir menstruada, trabalhar 14 horas por dia na frente do computador, não saber mais rimar, perder a poesia cotidiana, fazer exercícios pra voz, levantar da cama de manhã, negar os trabalhos que pagam bem por uma utopia patética, não entender as piadas da moda, dirigir pra cima, pra baixo e pro lado, não ter tempo pra ler, pra escrever, pra respirar, não prestar atenção no por do sol, tomar uísque sozinha, questionar todas ações, perder um livro com dedicatória do seu ídolo, não ter foco, tentar desvendar a geração, ter o seu stencil coberto por uma publicidade, se dividir em três profissões e entender que você é melhor naquela que você odeia, ser demitida sem aviso prévio, ter casos superficiais, amar pessoas distantes, ter um namorado gay, ficar com o melhor amigo e perder a amizade dele, fazer análise, chorar no divã, ter medo da dependência emocional, se sentir inapta, ser saudosista, achar que perdeu a felicidade em algum lugar no passado, não conseguir olhar para o espelho, nem olhar pra trás, ter medo dos novos passos, das críticas, de enlouquecer, de beijar um desconhecido, do que é finito, de buscar a estabilidade, de envelhecer, de ficar gorda, de ficar sozinha, da vida perder o sentido, de ser feliz. enfim, inventar mil motivos pra chorar de madrugada.

segunda-feira, junho 06, 2011

muro em ponta de faca

Era difícil olhar para o espelho. Como dissolver aquela máscara? Deveria penetrar naquele reflexo e encontrar a mulher que eu matava diariamente. Ela dormia enquanto eu anotava afazeres banais. Não entendia a sua fragilidade camuflada. Os desejos velados que se confundiam com uma esperança patética. Minha senhora pedia sigilo de estado. Cercada de atitudes clichês, uma pequena personagem inapta para tramas contemporâneas. Ela não servia para os próximos passos. Eu tinha medo de aceitar a minha capataz. Era impossível afogá-la no espaço refletido. Ou fingir que a dama não estava dentro do meu quarto. A moça se multiplicava nas horas vagas. Pedia poesias bobas. Encarava homens sérios. Eu fugia pela tangente, para o feminismo inútil. Como poderia aceitar sua súplica por profundidade e dependência emocional?  

terça-feira, maio 31, 2011

Publicar um livro é se despedir das poesias usadas.

casa nova



Preferia palavras particulares. Expor delicadamente a nuance de algo escondido. Espécie de exibicionismo velado. Uma fresta para visitantes anônimos. Pequeno instante de descoberta. Meu quarto foi cenário. O coração, tema. Eu tinha uma necessidade umbilical de me manter nesse lugar seguro. Mas agora percebo que preciso atravessar a porta entreaberta. Encarar Brasília de frente, enxergar as letras que estão espalhadas pela cidade e dançar no meio da rua. Devo pichar novos muros pra que os transeuntes absorvam a minha poesia. Tornar público o que era particular. Fazer parte da cidade da mesma forma que ela faz parte de mim. É preciso entender a importância de caminhar nessas calçadas. De definir pontos turísticos particulares. De aceitar a cidade como casa. Devo me atirar, definitivamente. 

quinta-feira, maio 26, 2011

Olhar de novo


É engraçado. Gravei as imagens desse vídeo ano passado. Uma experimentação. Improvisação com selos, espera imbuída. Pensei que as imagens seriam perdidas, já que não foram usadas para a construção do espetáculo da época. Mas agora, com o Poéticas Urbanas, surgiu a oportunidade de trabalhar com esse auto-vídeo. É interessante saber que podemos olhar de novo para algo que já considerávamos perdido. Como se o trabalho estivesse ali, adormecido, apenas esperando a sua vez de entrar em cena. Um amor que se guarda para depois. Pra quando houver coragem, pra quando puder ser inteiro.


Em Brasília, a amplitude afoga.