quarta-feira, maio 12, 2010

Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, maio 10, 2010

domingo, maio 09, 2010

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Enfim, é preciso partir. Seguir a viagem. Entregar o passado. Esquecer todas as idealizações de algo que não pode acontecer. Ver os fatos. Por pingos, exclamações e interrogações - tudo em seu devido lugar. Revisar as intenções, ler a realidade, encarar o problema de frente. E principalmente, deixar as reticências para os contos e afins. As malditas devem ser eliminadas - são elas, as culpadas - enganadoras de coração, criadoras de caso, abutres do passado. Matemos as reticências. Ponto por ponto. Friamente. Com luvas brancas de pelica. E depois do assassinato, voltemos a caminhar. O simples fato de por um pé, depois o outro. Perceba as cores desse equilíbrio instável. Aceite o esbarrão, o tropeço. Mas abra as mãos. Recicle seus pedaços. Desintoxique. Entregue o cheiro que não te pertence mais. Sim, esqueça as reticências, elas estão mortas. Não adianta. Volte a dançar com o acaso, coma todas as gentilezas por ai. Esse é o melhor perdão para frios assassinatos.