quinta-feira, outubro 29, 2009

Antes de partir



Fica esse gosto seco na garganta. As palavras embolam, as decisões tardam. Não quero partir. Não quero ir embora. Quero mais uma rima, mais dez gozos, mais quatro colheradas. Deveria ser uma louca, que seqüestra, que espanca, que te obriga a decidir por mim. Deveria sim, publicar todos os líquidos escorridos nesses últimos meses.

Acusada por olhares superiores, minha pornografia barata. Deveria estampar a minha dança sobre o teu corpo rígido. Uma, duas, dezenas de vezes. Me derreter sobre teus braços para ganhar a batalha. Ir longe, submersa. Rasgar qualquer fresta descuidada. Você deveria ser meu, irremediavelmente.

É tarde para recomeço ou suicídios. Você invade as minhas palavras. Presa entre as letras, a mulher que não sou. A dor que escondo, o filho abortado. Há pedaços em todas as cidades que se deve partir. Não se preocupe. A tua outra parte, segura e pré-estabelecida, cuidará das tuas tempestades.

E quanto a mim, lembrança tola, sou cidade esquecida.

sábado, outubro 24, 2009

Tight Lacing

Tightlacing ou "laço apertado" em uma tradução literal é o nome dado à prática de usar um corset por longos períodos, no intuito de alterar a silhueta reduzindo a cintura. Espartilhos genuínos são geralmente feitas por um corsetmaker e que deve ser montado especialmente para o usuário individual.

Procuro um desses milagreiros aqui em Brasília. Caso alguém conheça, entre em contato! =]

beijinhos

segunda-feira, outubro 19, 2009

Darei mil passos em vão.
Suplicarei para que meus olhos cessem.
Para que a pele acostume. Para que a dor vire lembrança.
Entregar-te ao mar. E salgar a amargura
Da tua solidão compartilhada.
Da minha pequena morte prematura.
Marinar os nossos corpos covardes
Em destilados antigos. Quase esquecidos.
Embriagar-me de suas ausências,
E reescrever meus poemas futuros.
E ainda assim, caminhar descalça.
Para que o vento eleve e lave
A tua paisagem da minha escadaria.

Carta do Dia

sexta-feira, outubro 02, 2009

AMOR LOUCO (AL)

O amor louco não é uma social-democracia, não é um parlamentarismo a dois. As atas de suas reuniões secretas lidam com significados amplos, mas precisos demais para a prosa. Nem isso, nem aquilo – seu Livro de Emblemas treme em suas mãos. Naturalmente, ele caga para os professores & para a polícia. Mas também despreza os liberais & os ideólogos – não é um quarto limpo & bem iluminado. Um topógrafo embusteiro projetou seus corredores & e seus parques abandonados, criou sua decoração de emboscada feita de tons pretos lustrosos & vermelhos maníacos membranosos.

Cada um de nós possui metade do mapa – como dois potentados renascentistas, definimos uma nova cultura com a nossa excomungada união de corpos, fusão de líquidos – as fronteiras imaginárias da nossa cidade-Estado se borram com o nosso suor.

O anarquismo antológico nunca retornou de sua última viagem de pecas. Conquanto ninguém nos denuncie para o FBI, o Caos não se importa nem um pouco com o futuro da civilização. O amor louco procria apenas por acidente – seu objetivo principal é engolir a Galáxia. Uma conspiração de transmutação.

As palavras pertencem àqueles que as usam apenas até alguém as roube de volta. O amor louco é saturado de sua própria estética, enche-se até as bordas com a trajetória de seus próprios gestos, vive pelo relógio dos anjos, não é um destino adequado para comissários ou lojistas. Seu ego evapora-se com a mutabilidade do desejo, seu espírito comunal murcha em contato com o egoísmo da obsessão. O amor louco pede uma sexualidade incomum. O mundo anglo-saxão pós-protestante canaliza toda sua sensualidade reprimida para a publicidade & divide-se entre multidões conflitantes: caretas histéricos versus clones promíscuos & ex-ex-solteiros.

O AL não quer se alistar no exército de ninguém, não toma partido na Guerra dos Sexos, entedia-se com os argumentos a favor de iguais oportunidades de trabalho (na verdade, recusa-se a trabalhar para ganhar a vida), não reclama, não explica, nunca vota & nunca paga impostos.

O AL é sempre ilegal, não importa se disfarçado de casamento ou de um grupo de escoteiros – sempre embriagados do vinho de suas próprias secreções ou do fumo de suas virtudes polimorfas. Não é a deterioração dos sentidos, mas sim sua apoteose – não é o resultados da liberdade, mas seu pré-requisito. Lux et voluptas.
Hakim Bey