quinta-feira, julho 31, 2008

Nasceu vento.

Podia ser marola,
mas preferiu ser furacão.

Entrelinhas

Depois de um mês fora é preciso voltar e escrever. Voltar a escrever. Sinto isso diariamente. Como se viesse junto com o despertar do sol. Escrever. Bolar ideias, pensar em rimas. O engraçado é que me encontro sem vontade alguma para recomeçar. Quer dizer, vontade até tenho. Mas recomeçar é sempre o difícil. Reiniciar algo que tá adormecido, parado , mofado não é para qualquer um. Para nos arianos, recomeçar já acarreta uma certa perda de tempo. Se começamos algo, não há porque parar. O recomeço é um gasto extra de energia desnecessária. O melhor é viver tudo de uma vez, de uma maneira intensa e rápida. Na verdade, pensar em recomeçar algo que já me brocha um pouco. Voltar a ser o que já foi? No way. Dizem que a ordem natural das coisas é permanecer como está. A inercia era pregava Newton e todos os caretas do mundo. "Fica como está e ponto final". Como se fosse possível se manter parado em cima da terra que roda. Emprego público, casamento, fast food. A busca inútil de tentar ser o mesmo sempre. Recomeçar algo que já foi feito. Lembro que todas as minhas tentativas amorosas não tiveram repeteco. Talvez isso seja um erro ou orgulho demais. O fato é que na minha vida não há recomeço, apenas começo. Começar é bom. Coça a barriga, gera fogo, energia vital. Faz a gente cantar canções bobas no meio da rua. Começar é entrar de roupa no mar. Simples, imprevisível e delicioso. É ser novo de novo sem ter medo de errar. E que o meu mundo esteja pronto para infinitos começos quando o sol raiar.

Meu coração muda com a direção do vento.
Sopra...

sábado, julho 12, 2008

Poeta e Poetisa

--> Edvard Munch - Kiss on the beach.(modificada)
Veja a original infinitamente mais bela!
Ele surgiu de repente,
calça xadrez e copo na mão.
Ela derretendo o fitava,
sem saber se chegava ou não.

Apressado, já fez o convite:
cama quente, lencol macio.
Um cuidado para moça fada
E um não para o moço vadio.

Depois veio outro encontro.
Rostos reconhecidos,nomes trocados.
E na mistura do acaso com desejo,
Deram o primeiro de muitos beijos.

Regados a pizza e poesia.
Trocaram autores favoritos,
Poetas, boêmios e loucos
Sussuros ao pé do ouvido.

Por do sol sabor Haagen Dazs
Demostrações públicas de afeto
Poeta e Poetiza tremendo de vontade
Pintura exposta no espelho do teto

Desejo saciado e mutiplicado
Um sabor de quero mais
Viagem trocada ao inverso
A saudade aqui já se faz.

O tempo passa rápido
Poetas preferem o talvez
Verdadeiros e espontâneos
Não tem medo de mais uma vez.

Pode ser que tudo passe
e no futuro, desencontro
Quem não arrisca, não petisca
Ele não quer passar do ponto

Pode ser que tudo dure
e no futuro, o encontro
Quem não arrisca, não petisca
Ela não quer passar do ponto

Poesia se faz com rima
Amor com liberdade
Ele vai voar pelo mundo
Ela vai ficar na vontade

Tudo na vida tem seu fim
E também o seu começo
O momento é de se caminhar
Mesmo sem saber o endereço.

sexta-feira, julho 11, 2008

Prefiro minha lágrima verdadeira
ao seu sorriso falso.
O fim é o começo da saudade,
a saudade é inicio da vontade,
a vontade é o despertar da ação.
E a ação é o princípio do fim.

sábado, julho 05, 2008

...



Se a sua perdição é embalada na verdade,
Entreaberta, as minhas as pernas, te espera com saudade.

Epifania

Era paisagem.
Depois, passos.
Na boca, paladar.
Você em pedaços.
Pele, pêlo, pau.
Falando assim, parece banal.
Mas não é. É por do sol.
Poesia improvisada no temporal.
Dizem que a cidade é seca.
E depois da pele, vem a posse.
- Não é o prazer?
-Prazer é o ato de ficar perdida a noite inteira dentro de você...

quarta-feira, julho 02, 2008

Para Minha Vó Alaranjada

Ela tem um gênio do cão. Um gênio do cão e um tumor no cérebro. Um tumor do tamanho de uma laranja foi o que o médico disse nessa terça feira de manhã. O mais estranho é que desde pequena, eu conheci laranjas de todos os tamanhos. E pra ser bem sincera, isso me dá um pouco de medo. Um pouco não, muito medo. Na verdade, me parece invasivo demais, pensar que alguém resolveu, de uma hora pra outra, abrir a cabeça dela para colher uma simples fruta. Será que a laranja já está madura pra ser arrancada do pé? Será que ela não vai sentir falta daquela companhia secreta? Será que os pensamentos ainda vão ter o gosto cítrico? Ela sempre foi a minha cara. Quer dizer, eu que sempre fui a cara dela. Todo mundo fala. O jeito de andar, de escrever, de levar a vida. Desde pequena, minha mãe já falava. Não sei se foi por isso, ou pelo acaso do destino, que me deram o mesmo nome que o dela: Lúcia. Significa luz. Mas não uma luz qualquer. Lúcia é uma luz bonita, mesclada, suave e forte ao mesmo tempo. A luz ideal. Pele morena, cabelos com cachos grisalhos e um sorriso apaixonado. Lembro das nossas tardes. Ela contando dos amores que teve, de como conheceu "ele" no festival de cinema da década de 50, de como era difícil uma mulher trabalhar fora naquele tempo. Nós temos os mesmos signos, só que ao inverso. Ela é libra ascendente peixes, e eu peixes ascendente libra. Ah, e lógico. Ela agora tem uma laranja a mais também. Uma laranja que vai ser retirada do pomar daqui a duas semanas. Eu ainda não tenho laranja, nem morango, nem maracujá. Só tenho meu amor por ela mesmo. Quando eu era pequena, a coisa que eu mais desejava na minha vida era correr para os braços e para a casa dela. Lá tudo era permitido! Tinha gato, cachorro, papagaio. A gente podia ser o que quiser, brincar do que quiser, se vestir do que quiser. Só não podia comer o que quiser. A comida de lá, era ruim. Ela me obrigava tomar sopas horrorosas. Eu fingia que tomava, joga fora, sofria na hora da mesa... Mas mesmo assim, valia à pena agüentar a sopa pra ficar do seu lado. De noite, subíamos para o terraço e olhávamos as estrelas, e ela contava de quando quase foi abduzida por um disco voador. Acho que é por isso que eu morro de vontade de ser abduzida até hoje. Depois, quando íamos dormir, ela limpava os nossos pés com um paninho molhado. E o melhor, ela sempre deixava eu dormir com um gato. Minha mãe odiava gatos, dizia que eu tinha alergia, mas nunca tive isso quando dormia com o gato na cama dela. Acho que a cama dela era antialérgica. Bom, depois o tempo passou. E veio a adolescência, e eu continuava a correr para os braços dela. Ela fazia cada fantasia de carnaval! Cada ano, um bloco diferente. Melindrosas, diabas, onçinhas. Nem todos os confetes do mundo, poderiam expressar a minha alegria de passar o carnaval com ela. Ai depois, o tempo passou de novo. E eu virei adulta. Uma adulta que se especializava em correr para os braços dela. Quando eu chego perto dela, tenho vontade de ficar abraçada o dia inteiro. De falar de teatro, de sonhos, de astrologia. De ver como ela é moderna mesmo tendo nascido nos anos 30. "Moderna demais"- a minha mãe fala. E agora essa: inventar de criar laranja na cabeça. Vê se pode? Mas tudo bem. Nada de ruim acontece com ela. Nem comigo. Somos Lúcia. E Lúcia significa luz. Quer saber? Eu tenho certeza que daqui a duas semanas, estaremos todos tomando suco de laranja em pleno carnaval, bem do jeito que ela gosta.