segunda-feira, dezembro 22, 2008

Pés fortes, passos largos.
Ruas sem esquinas.
Um coração que pulsa...


Minhas lágrimas são poemas que brotam em manhãs cinzas. A beleza dos meus olhos vem das noites não dormidas. E se meu coração grita, é porque gosto de gritar. Não me venha com esse olhar de coitadinha... Porque das minhas cicatrizes, cuido eu. A dor é o que eu tenho de mais verdadeiro. Ela não só move meu mundo, como acelera meus passos. Eu sou o eterno beijo que está para acontecer. Se não te agrada, mude de calçada.

sábado, dezembro 20, 2008

...


Permaneces não apenas nas letras passadas,
mas de forma constante na palavra talvez.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

(des)esperar



Uma experimentação com as fotos da peça (des)esperar!
Estaremos em cartaz em 2009 e com a ajuda do FAC! =]
Melhor presente de fim de ano não poderia existir!

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Primeiro é preciso descolorir, desbotar todas as cores antigas e apagar o que o tempo esqueceu. Tomar um banho de Água Raz dos pés a cabeça. Limpar as frestas, os poemas, o rosto inteiro. Virar página em branco sem nenhum traço ou encanto. Pálida de mim. Ficar assim, apagada e quieta, vestida de vazios. E depois de beijar o silêncio, aceitar a espera necessária da primeira gota de tinta nova sobre a pele antiga.

domingo, dezembro 14, 2008


desbotar
( v. tr., v. int.):
fazer desvanecer
a cor ou o brilho de;
descorar;
alterar a cor;
perder a viveza da cor;
empalidecer.



Poesia Gráfica de Arnaldo Antunes

sábado, dezembro 06, 2008

Hoje estou numa crise de carência horrorosa. Não consegui escrever uma linha sequer... mesmo com o peito cheio de coisas a serem ditas. Passei o dia na cama, bem clichê, deitada. Odeio quando isso acontece. Parece que a tristeza só vale à pena quando gera algo belo, e não lágrimas derramadas no edredom. Meu telefone tocou varias vezes, mas eu não quis atender ninguém. O tempo parou. Fiquei com a dúvida fútil entre curtir a minha deprê ou sair pra tentar esquecer. Optei pela primeira. O ano já acabou, e sinto um vazio no peito. Quanto pedaços de mim devem ser arrancados ainda?

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Take 2



Tinha um segredo, uma espécie de jardim escondido no meio do cinza-urbano. Um pedaço que só pertencia a ela. Havia sido invadido em um momento aquoso, enquanto voltava pra casa num dia qualquer à tarde. Desde sua descoberta, visitava o local quando queria esquecer ou lembrar.

Parou o carro no acostamento, e sozinha subiu os degraus daquele enorme escorredor de águas que aos teus olhos mais parecia uma escada inca. Ela costumava ver tudo que a cercava de um ângulo diferente. Adicionava texturas, cores, sabores raros. Como se assim, a vida se tornasse um pouco mais interessante. Gostava de voar dentro de uma bolha de sabão prestes a estourar. E quantas vezes seriam necessárias as tais explosões? Se rasgar e costurar incansavelmente como uma aranha que tece sua teia durante a chuva.

Sentiu o gosto do sorvete antes dividido, depois o cheiro da erva. Recordou alguns entardeceres e foi lambida pelas antigas mãos daqueles passageiros. Doava poesias corpóreas para amores instantâneos. Abria pernas e peito na busca de preencher algo que faltava. Faltava ou sobrava? Já não sabia direito o que se escondia dentro dos enormes olhos de ameixa enquanto subia sua escada.

Nos últimos três degraus, não havia mais lágrimas nos olhos. Todas aquelas luzes que desenhavam o infinito abraçavam a sua dor. Podia ver a ventania que varria seus pequeninos problemas para longe. Enfim, o centro do mundo. Pouco importava as cicatrizes agora. Estava além da ponte que cortava a cidade.

Lá embaixo, os carros corriam a procura de uma felicidade inexistente. Ela sabia que era inútil continuar seguindo a mesma estrada para lugar nenhum e quis parar ali mesmo. Podia dar um fim para o constante vazio. Colorir o asfalto de vermelho. Se dissolver sobre o concreto que a cercava. Mas isso seria bem clichê. Preferia imaginar a sua morte de uma forma mais passional e menos egoísta, com direito a choros, gritos e beijos de despedida.

Abriu a bolsa, caçou o chocolate e esperou ele derreter sobre a boca. Imaginou um jazz sussurrado sobre teu ouvido. Deitou na grama, levou a mão direita até a boca, e passou o dedo indicador sobre os lábios. Devagar escorregou a sua mão sobre nunca, desenhou algo sobre os ossinhos dos ombros. Seguiu a dança até o seu seio direito, preenchendo a tua mão de vontade. Era cedo demais pra partir.

domingo, novembro 30, 2008

Instantâneo (s. m. / adj ): rápido; súbito; que sucede num instante; momentâneo; fotografia com tempo de exposição muito reduzido.


Tira de Lucas Tonon Gehre
Sempre gostei dessa palavra. Acho forte, expressiva. Como se num passe de mágica, a gente pudesse mudar o nosso mundo. Um estalar de dedos e tudo se transforma: o choro vira riso, o estranho vira amigo, o amigo vira amor. Tudo isso de uma forma simples, efêmera, instantânea. A arte de se por disponível para o imprevisível. Sem amarras, sem correntes. E o que é a vida senão um instante? Esse que está se escorrendo pelos seus dedos nesse exato momento. O instante que tenta te abraçar, enquanto você foge por ter medo de cair. Essa dúvida que impede que a vida dance um tango colado com você. Hedonismo, diriam os intelectuais. Pecadores, a igreja. Porra Louca, minha mãe.

É lógico que falar de instantes é bem mais simples do que aceitar que a vida é feita deles. Não é fácil pra ninguém perceber que nesse planeta, o eterno é momento presente, o curso das águas não é você quem dá e os planos não passam de tempo perdido. Sim, eu estou exagerando mesmo. Mas se pararmos pra pensar, esse meu exagero está pautado na verdade. É triste, mas não mandamos em nada por aqui.

As vezes, passo meses planejando coisas que se dissolvem em segundos: viagens adiadas, amores perdidos, companhia trocada. Lembro de um carnaval antigo. A folia estava combinada com a Anita há meses de antecedência. Dias ansiosos, passagens compradas e pedras incontáveis na vesícula. A pobre Anita teve que ser operada uma semana antes do dia previsto para a orgia. E lá, estava eu, sozinha no galeão. E nesse mesmo carnaval, apareceu a Mila na minha vida. A Mila é irmã louca da Anita. Ela tinha acabado de chegar ao Rio e não conhecia ninguém, apareceu lá em casa pra tomar um chá e já foi convidada para morar. Simples e instantâneo. Como a vida deve ser. Uma amiga operada, uma amiga encontrada.

Tudo bem que se todos levassem a serio a eternidade do instante, o mundo estaria perdido. Nesse momento, por exemplo, provavelmente ninguém estaria trabalhando. Estaríamos todos enlouquecidos em uma praia ou em uma festa qualquer. Amores brotariam de forma rápida, sem tempo pra joguinhos ou máscaras. O medo do futuro seria substituído pelo prazer do eterno. E os antidepressivos sumiriam das farmácias. Como íamos organizar tanta felicidade? Será que a gente conseguiria viver em liberdade? E o poder de compra? E poder de venda? E a toda as regras que nos cerca?

Como uma boa pisciana, eu ia achar maravilhoso. Se o caos é a ordem natural das coisas, pra que passar tanto tempo tentando organizar? A vida vai encaixando tudo direitinho sem precisar de mãos adjacentes. Sei que mudar esse mundo é impossível, mas porque não mudar o seu mundo? Viver o presente. (Des)esperar. Morrer de amor. Tem coisa melhor? Nem adianta querer me enganar, eu tenho certeza que o instantâneo tem gosto de sorvete e não de miojo.

quarta-feira, novembro 26, 2008

República Ideal


Foi num lugar fora do tempo que escutei o rugido sussurrado me indicando esse blog. Um fino leonino disse que quando eu visse a tal página, eu iria pirar. Dito e feito. Aquela saudosa juba estava certíssima. O blog indicado é uma espécie de manual básico de contracultura moderna. É daqueles lugares que a gente encontra tudo que é escondido: bons CDs, Livros, Imagens e textos excelentes!

Discussão sobre trabalho, mídia, alucinógenos, arte de rua, jazz, imperialismo americano, consumismo, desigualdade social... enfim, um mix de tudo que a gente se interessa em um só lugar! Nome do blog é República de Fiume e se define como um refúgio de boêmios, artistas, piratas e anarquistas no século XX.

Ele tem como base a historia de um poeta que conquista uma cidade (Fiume) e estrutura a sua constituição baseada na idéia da música ser a única força de organização social. Bem, imaginem um lugar governado por um poeta, boêmio e músico! O site conta que toda manhã, o tal “governante” lia poesia e manifestos. A noite era regada de concertos, seguido por fogos de artifício e muito vinho. Nisso se resumia toda a atividade do governo. Parece ser maravilhoso, não?

República de Fiume tem um ar de carpedien moderno que instiga qualquer mortal. Fora que é muito bom ter a oportunidade de em um só lugar sair bem informado, baixar um cd fino e ainda ver um stencil maravilhoso.

Além do que o blog tem vários links interessantes. Cada página tem cerca de 100 postagens, e você ainda pode baixar os livros no e-books. Dá fuçar a vontade! República de Fiume não é só uma página na internet, mas sim a tentativa de manter nossos olhos acordados e relembrar que a liberdade é necessária.

Degustem a vontade:



Ps 1 – Não esqueça de entrar nos arquivos do Blog que estão localizados perto do título. Lá é que se encontram as melhores coisas do espaço.

Ps 2 – Os livros para baixar também estão perto do título num link chamado E-Books.




...inVENTO paixões...




tirinha usurpada do Lucas Gehre

terça-feira, novembro 25, 2008

Take 1


(...) pingou a ultima gota do teu perfume favorito entre seios e beijou o espelho de uma forma egoísta antes de sair do banheiro. Vestido preto balonê de tafetá, cabelos cuidadosamente bagunçados. Nos olhos, a mistura borrada exata entre rímel e as noites mal dormidas. Tinha um visual desgastado encantador. Parecia à beira de um abismo mesmo quando sorria. A dor que impregnava sua pele a tornava ainda mais bonita. O que seria da mulher sem uma dor? Passou pela sala, desligou o som que tocava a mesma música de ontem. Caçou inutilmente a chave do carro. Revirou algumas bolsas, encontrou 10 reais e colocou em sua carteira vazia. Talvez fosse a hora de buscar um emprego fixo. Tomou um gole no gargalo da garrafa de Vodka e assaltou a chave-reserva em cima da estante. Desceu a escada apressada, entrou no carro bagunçado e acendeu um cigarro como companhia. Sugou e assoprou com as mesmas ilusões banais. Lembrou de alguém que já devia ter esquecido. Errou duas vezes o caminho antes de chegar ao lugar marcado. Teve ódio de si mesma. Suspirou fundo, olhou para frente e voltou a dirigir de forma descuidada pelas ruas largas. (...)

terça-feira, novembro 18, 2008

segunda-feira, novembro 17, 2008

domingo, novembro 16, 2008

Urano conjunção Sol

Quando ele chegar, me cobrirei de verdades provisórias e terei asas nos pés cansados. Serei abraçada pela coragem da ventania. Cortarei todos os meus pêlos crescidos. Esses que diariamente pensam sobre a minha cabeça alada e me impedem de partir pra longe. Meus fios serão transformados em saudosas lembranças. E livre de posses, marcarei peles. Dançarei um tango sobre a neve fresca da Terra do Fogo ao entardecer. Grávida de mim, aquário imenso, vou lamber o sêmen doce do meu acaso. Correr solta com o vento, atrás de cura para as lágrimas secas. Vou me perder num beijo do planeta difuso. Eu, submersa e incontínua. Serei apenas letra exposta sobre o teto estrelado do mundo, quando Urano chegar.





Urano Conjunção Sol - do final de abril 2009 até meados de dezembro 2010.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Apetitosa Cordilheira

Ontem acabei de devorar a Cordilheira do Daniel Galera. Tinha comprado o livro na sexta, mas só comecei a ler no domingo. Tenho uma relação estranha com os livros, assim como os amores, gosto de ler tudo de uma vez só, sem pausas e nem respirações. Não consigo ficar guardando os capítulos para o dia seguinte. Quero sugar tudo que aquelas páginas podem me dar em segundos. Só leio um livro se for assim. Tenho que ter uma paixão instantânea por ele já primeiras paginas, senão eu paro. E costumo ser fiel aos meus autores favoritos. Quando gosto do primeiro, vou ler todos os outros publicados. Foi assim que me apaixonei por Daniel Galera.

O primeiro que li foi Até o dia que meu cão morreu em julho desse ano. Graças uma matéria numa antiga bravo na casa da minha prima, conheci o autor contemporâneo, considerado uma grande revelação literária.  Fantástico e simples ao mesmo tempo, a escrita de Galera tem um que de Caio Fernando Abreu, só que mais atual. Ele rega o romance com uma espécie de solidão urbana que está presente em toda a nossa geração. A falta de toque, o medo de se relacionar, o desencanto perante tudo. Me identifiquei como se fosse eu a narradora daqueles relatos do homem entediado em seu apartamento.  Esse foi o meu primeiro beijo nas palavras do moço.

Agora, meu segundo encontro: Cordilheira. O romance tem como trama inicial a estória de uma escritora que não gosta do seu único livro e quer largar tudo para engravidar. Como o término de um relacionamento, ela foge para Buenos Areis onde suas letras vão ser lançadas. Até ai tudo bem: brigas de casal e fugas emocionais. Mas como traçar uma discussão central da vida de toda mulher contemporânea sendo homem ?

Somos criadas para sermos independentes, estáveis e adiar sempre o incomodo de uma gravidez. Ter um filho hoje é sinônimo de maluquices em quase todas as reuniões femininas. É maravilhoso ver a defesa de protagonista sobre o desejo de ser mãe. Faz a gente repensar escolhas e o que é vendido por ai como ideal feminino contemporâneo. E o mais incrivel é ler tudo isso através da voz grave de um homem que narra o universo feminino com uma intimidade impressionante.

Mas isso não é tudo. Galera também nos questiona sobre a apetitosa discussão entre o real e o imaginado. Até quanto do escritor tem no personagem escrito? Fiquei horas pensando sobre isso quando acabei o livro. Sou personagem de todas as minhas letras. Mesmo supervalorizando coisas, criando outras, tudo faz parte de mim. Não dá pra dissociar o artista da obra realizada por ele. Somos criadores e criaturas. Isso é abordado de uma maneira surpreendente no livro que não convém ser contado aqui.

Cordilheira fala de amor entre indivíduos, sonhos e literatura. Não tem como passar batido por ele. Isso aqui é mais que uma indicação, é um presente para as bocas devoradoras de livros.

Segue o vídeo sobre o livro, trecho e mini conversa com autor para dar mais vontade de ler:



segunda-feira, novembro 10, 2008

Sou vestida de morte ao amanhecer. Parece que tudo sobra mim. Mistura estranha e mal encaixada esse meu pequeno quebra-cabeça. Há restos por todos os lados. Os atos de nascer e morrer se excedem sobre os meus poros cansados. Lágrimas que caem são eternas. Como se esse rasgo nunca parasse de sangrar. Dói ser assim, ser um excesso de duvida, ser o instante perdido, ser amor inventado. Como algo estranho e efêmero pode me mover? Os ventos batem além das janelas. Eles correm um mundo bem maior que eu. E a minha pele é sempre recheada de posses. Sou muitas, sou além

sexta-feira, novembro 07, 2008

Sobre frasco e perfumes


Sempre tive um lado estranho que me fazia pensar sobre embalagens. Não que eu fosse publicitária ou coisa desse tipo. Mas um bom frasquinho me enchia os olhos. Eu gostava de embalagens transadas, bem desenhadas e principalmente diferentes. Uma espécie de pessoa viciada pelo belo. É lógico que não espalhava isso aos quatro cantos do mundo, mesmo porque esse era um motivo que muitas vezes me cobria de vergonha. Era conquistada por curvas e cores, pelo conjunto de traços harmônicos e pela forma perfeita que embriagava os olhos. Há uma futilidade implícita nas pessoas que amam embalagens.

Quando Vinicius pregou que a beleza era fundamental, certamente recebeu um bocado de críticas hipócritas. Como não se estremecer perto de uma obra de arte? Quem não gosta do belo que atire a primeira pedra. É importante deixar claro aqui que a beleza é um ponto de vista, e assim como todas as coisas relativas do mundo, ela é extremamente paradoxal. Cada um tem as suas taras e seus padrões estéticos. De corpos tatuados a cabelos loiros escovados, a única coisa certa é que o belo é essencial para o nosso mundo feio.

Embalagens servem para guardar recheios, frascos guardam perfumes e corpos são recheados de alma. Não há nada mais decepcionante do que uma propaganda enganosa. É triste ver um design perfeito embalar algo estragado e de má qualidade. Quantas vezes nos deparamos com a confusão entre frascos e perfumes? Já escutei absurdos sobre a minha imagem transmitida aos desconhecidos. Como se o meu frasco não combinasse com o verdadeiro perfume. Tenho certeza que isso gera um conflito entre consumidor e consumido, porque é difícil comer gengibre quando se espera chocolate.

O improvável vendido numa embalagem estranha também tem a sua mágica. Pode ser maravilhoso o fato de ser surpreendido. Pessoas surpresas. Mesmo contra a propaganda enganosa, tenho certeza que muitos já se deliciaram com um frasco que não deram muita importância. É como comer açaí, no começo parece feio, mas depois você experimenta e percebe que é delicioso, que a cor é bonita, que a consistência é gostosa, que é uma obra de arte.

A realidade é que as embalagens são jogadas fora depois da refeição e o que permanece é o gosto do recheio na nossa boca. Frascos são quebrados e os perfumes exalam sobre o corpo cansado. É a essência se mostra como o fator decisivo no final das contas. Mas como conhecê-la quando na maioria das vezes estamos vidrados nas embalagens?

“A profundidade também se encontra na superfície”- essa é a dúbia frase que ouvi de um amigo artista plástico a respeito do tema. Ele me explicou que os nossos frascos são uma tentativa de mostrar a todos o que somos ou o queremos ser, então não podemos dissociar frascos de perfumes. Somos também a imagem projetada, querendo ou não. O teu belo está ai, exposto para quem quer ver, no seu frasquinho íntimo.

Por isso, sem grilos ou hipocrisia, abocanhe o design ideal para os teus olhos e experimente com cuidado. Veja se o recheio te apetece, se o gosto é do agrado. Em caso de indigestão, devolva logo para prateleira. Há sempre novos olhos atentos e embalagens recriadas nessa feira.

sábado, novembro 01, 2008

Sobre poemas e cicatrizes

Ambos temos uma cicatriz no joelho direito. Não que sejamos companheiros, longe disso, eu mal o conheço. Algumas letras, a fama imunda e o desejo latente. Esse foi o resumo apresentado do poeta. Lógico que ainda há o cheiro característico de boemia, a prepotência intrigante de escritor, o mistério dos olhos pretos. Mas o que mais me fascina não é o frasco, nem o perfume. É a tal cicatriz. Uma espécie de rabisco que marca um tombo ou uma queda específica daquele outro corpo dolorido. A quelóide exposta de uma saudade antiga e amarga. Ele tem um desenho parecido com o meu que cobre o seu joelho direito inteiro. É isso que me enche de vontade. Queria mergulhar naquela ferida semi-aberta para conhecer o que ele esconde atrás da pele. Qual é dor que o faz tão interessante? Meu espelho distorcido que apareceu face a face nos últimos dias. Ele faz questão de encostar a sua pele sobre a minha. Sempre há um pedaço que lambe suavemente outra parte qualquer. Mesmo sem nenhuma intimidade, os olhares se cruzam. É um toque de cotovelo que esquenta o meu corpo. Ou uma música que enche os meus olhos. E ainda há um imã que me arrasta para a sua cicatriz. Espero um próximo passo que nunca chegava. Ficamos na superfície. Um jogo esdrúxulo se estala sobre as nossas almas. Preciso criar rimas, superlotar o querer, aquecer em banho-maria. Podia apressar o tempo ou improvisar um beijo, mas prefiro ficar com a dúvida certa daqueles olhos. É como se eles escondessem algo tão profundo que eu nem mesmo saberei como tocar. Deliciosamente imaturo dentro de uma casca intelectualizada, o homem da cicatriz. Meu joelho tenta correr para a sua poesia aos domingos. Acredito que palavras são remédios. E a cada rima, recebo uma cura. Todas as marcas podem ser apagadas, menos aquelas que vão nos unir. Nossos joelhos cortados enchem a minha cabeça de imagens cruas. E entre essas duas pequenas cicatrizes, eu peço que a vida volte a sangrar.


quarta-feira, outubro 22, 2008

Duas latas de super 8 guardadas para o argumento ideal.

Enquanto meus tons pbs se espalham sobre a tela, eu revelo (apressadamente) partes de mim. Cama, telhado, vitrola. O meu quarto sempre escuro se exibe para camisa de listras dele. Engraçado, esse mundo regado a ervas e Stella Artóis. São duas latas de super 8 guardadas para o argumento ideal. Será que a cegueira é o principio da razão? Juntos, comemoramos o fim de hoje ou o começo do amanhã. Dizem que quando o gafanhoto pousa é sinal de esperança.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Cimento Urbano

Toque: ato ou efeito de tocar; contacto; pancada; percussão; som; ato de tocar instrumentos; som que determina a execução de operações ou manobras militares; sabor ou cheiro especial de certos vinhos; vestígio; inspiração; esmero num trabalho artístico; aperto de mão como cumprimento; mancha que constitui indício de apodrecimento na fruta.


É triste. O tempo escoou esse nosso substantivo masculino. Não sei se saiu de moda, mas o certo é que cada vez mais estamos imbuídos em uma solidão urbana eterna. Vivemos no mundo embalado a vácuo. Não sei tocar, nem sei ser tocada. Parece estranho olhando de fora. Mas é mais normal do que se imagina. Enquanto a visão sobra no mercado, o tato desapareceu das prateleiras. Talvez seja culpa do medo em excesso. Toque, rasgos, mãos. O contato é sempre contagioso e muitas peles estão doentes.


Há algum tempo, olhando pelo espelho, descobri uma mancha cinza no meio das minhas costas. Era o começo dessa tal praga. De forma rápida, a mancha se espalhou pelo corpo e a pele ficou assim: coberta de cimento urbano. E não há chuva que consiga penetrar o concreto, a cara feia, o bico mimado. Somos cobertos de um egoísmo medroso que envergonha própria espécie. Fechada, mesmo com a fachada aberta, nos trancamos em ilusões momentâneas. E como se os toques não passassem de pequenos espasmos em corpos efêmeros e desconhecidos. Sozinhos, seguimos nos nossos carros poluentes pelas ruas largas da cidade planejada.
Será que esse era o plano? Uma cidade rodeada de monumentos brancos, tempo seco e espaço. Muito espaço. Brasília expande o espaço entre os corpos. É preciso sair, é preciso dançar, é preciso chegar perto. Ou você se força a fazer isso, ou amplitude te afoga. Temos que por o concreto disponível para ser martelado, mesmo que doa, sangre e rasgue. Se livrar dessa epidemia contemporânea. E tocar. Mas como tocar???


Som das palavras soltas. Saborear o gosto de uma erva dividida. Cheirar a visita efêmera da chuva. E principalmente dialogar com as mãos. Cuidar para que elas não esmaguem. Ou deixem escorrer. Arrancar a casca. A minha, a sua, a nossa. E se atirar de novo. E mais uma vez. E outra. E ter coragem. Ser Vinicius. Aceitar o vício. E abrir as pernas. E gritar de vez em quando. Essa é a minha tentativa poética de medicamento. Temos que agir rápido, porque a doença está se alastrando. Precisamos colorir essas peles acinzentadas. Eu ainda não sei remover a minha mancha. Nem dissolver o concreto. Mas acredito no poder das minhas mãos. E das suas também.


terça-feira, setembro 30, 2008

Ato de depilar I

Fazem caras e bocas,
cAbelo, pêlO, peNteLHo
Crescem sem vergonha
Se exibem no meu espelho.

Íntimos do tempo,
Escancaram o não toque.
Me enchem de raiva
E pedem sempre retoque

Se alongam com a espera,
Se alisam com a preguiça,
Emaranhado de quereres,
É a vida que enguiça.

Gilete, Pinça, Cera
Exterminar o natural.
Arrancar memorias póstumas.
Minha atitude feminina e banal.

Os poros estão abertos,
os pêlos cobrem o chão.
Por que meus problemas não
são arrancados com uma boa depilação?

Sem pêlos, só pele.
Estarei a dançar.
Macia me machuco
A espera de um tocar.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Água Nova

Depois de secos meses, ela decide benzer as linhas da cidade. O cheiro de terra molhada invade o asfalto amplo e fica mais fácil sorrir sem motivo. É como se a preguiça convidasse o nosso corpo cansado da aridez quase-eterna para dar uma voltinha no parque. Trilha sonora leve, brisa calma. O céu antes colorido, fica todo cinza - cinza-azulado – e de repente, a noite visita o dia. É mágico ver o sol ceder espaço imediato para nossa escuridão urbana. Ai, ela vem e me abraça. Deságua desejos. Traz a certeza que o fim é sempre começo de algo novo. Limpa, invade o peito, encharca os olhos. A chuva molha todas as frestas. Me acalma a pele. Suavemente eu me dissolvo e sou levada pelo destino incerto das lágrimas celestes. Os traços da cidade ficam borrados. Pessoas intocadas buscam o toque urgentemente. E o meu confortável edredom preto me abraça. Espaço duplo para um corpo só. Mas a moça se exibe e dança sobre os meus antigos vidros embaçados. Ela lava minha alma. Sou água nova sobre a cidade cimento.






espaço duplo, um corpo só.



Desenho do Taigo Meirelles

quinta-feira, setembro 18, 2008

Aquela parte que se esconde atrás da imagem do espelho distorcido.



desenho Taigo Meirelles
foto e photo eu e eu mesma

Escancarada, repetitiva e deitada na sua cama. Faço poses descompassadas enquanto suplico que teus olhos seletivos apreciem a minha obra inacabada. Eu, um emaranhado de traços e letras. O caos orgânico urbano. A mistura exata entre a virgem e a puta. Entregue. Saudosa. Inteira. Deitada. À espera de você, minha rima boemia. Do gosto embriagado. Dos desenhos derretidos. Da voz grave. Eu danço um jazz rouco sobre a sua cama vazia - caço o cheiro, suor, cacho de cabelo - quero ser a tua tela em branco. Mas por enquanto é o silêncio que me pinta.

terça-feira, setembro 09, 2008

Entrelinhas

Tem lama na minha garganta. E a minha voz tá mais rouca que o normal. Sinto que não adianta esticar as minhas mãos para tentar agarrar o que certamente não quer ser meu. Meus cabelos estão longos com essa espera inútil. E a saudade continua a mesma. É como se não tivesse chegado. É como tivesse se perdido por ai. É como houvesse uma música arranhada dentro do meu disco favorito. Essa esperança morta me beija ao amanhecer. Os meus versos são rasgados um a um. Meu desejo é destruído lentamente de uma forma tola e dolorosa. Tenho uma fome insaciável. Tenho uma dor muda. Tenho uma tática falida. Recebo um beijo no canto da boca que atiça a minha língua nervosa. Gritos seriam providenciais nesse instante. Eu conheço bem a previsão do futuro e chego a sentir saudade daquele passado inventado. Pra onde foi, em? Pra onde foi a poesia que estava aqui? A ausência que cobre o meu peito me deixa ainda mais bonita. E eu sou atacada por olhares indesejados. Todas as bocas querem a minha. Todas as mãos, os meus pedaços. Mas eu ainda tenho como foco aquele mesmo vazio. É como se a minha pele quisesse redescobrir o cheiro daquela rima perdida, a fuga aumentasse o desejo do caçador pela presa e o quase beijo me levasse a um desespero agradável. É, talvez a loucura seja um caminho sem volta.


terça-feira, setembro 02, 2008


Em caso de dor, movimentO.

Minha fumaça corre com ventO.

Esse amor vai se perder no tempO.

A comida sempre vira excrementO.

Tem excesso de palavra, meu silênciO.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Entrelinhas

Há lágrimas nos meus olhos. Um mar delas. Nem sei porque elas caem nesse momento, apenas sinto o gosto salgado na boca. Enquanto o Caetano canta, a dor invade o quarto. É como se tivessem arrancado uma parte de mim. Pra onde foi tudo? Será que nunca existiu? A realidade insiste em bater na porra da porta. Pra que nomes, pra que situações, pra que a fuga? Não mordo, nem mato. Acordo sempre com esse sonho estranho. Não quero um salvador. Não quero um pau efêmero.Nem instantes corridos. Quero poesia. Um beijo no meio das costas. O tempo instantâneo de um amor imaturo. Quero que pegue na minha mão e suma. Quero mais, mas falta muito. A verdade é que nada tem importância pra mim, só a paixão rasgada. Estranha, essa sensação de vazio que me visita agora. De ser indesejada. Descontínua. Perecível. Tudo passa tão rápido que marca. Devia esquecer, me perder e fingir. Mas sinto essa dor gritada, o cheiro pré-anunciado da solidão e, mais uma vez, sinto muito medo de mim.


quarta-feira, agosto 20, 2008

Hoje acordei com uma ventania que entrou pela minha janela aberta. Era um vento forte que parecia celebrar algo especial. Os ventos sopraram lembranças sobre meu ouvido. E aquele toque suave de furacão permanece até agora sobre a minha pele. Havia você ali dentro do meu quarto ao acordar. Sua poesia. Seu grave. Seu gosto específico de vento sobre o céu da minha boca. Eu fui vestida de vontade ao amanhecer.

Entrelinhas

Ontem assisti um filme sobre a minha vida. Parece estranho, mas é verdade. Alguém entrou aqui, leu tudo que eu escrevi e transformou em pelicula. Era como se eu estivesse na tela com o rosto de outra. Não só entreaberta, mas escancarada. "Sou uma personagem clichê"- pensava a cada plano sequencia. Tinha até uma cena onde a moça entrava no chuveiro e corria sangue morto por todos os lados. Filme escuro, cheio de entrelinhas. Havia muito exagero também, um absurdo permeava as cenas e a atriz estava estilosa mesmo na merda. Mas isso é detalhe perto da estoria de uma mulher e seu bloguinho. Comédia adolescente? Não, obra prima estranha. Amei. Recomendo mil vezes mesmo para os desblogados.
Nome Próprio - filme de Murilo Salles.
baseado na obra de Clarah Averbuck,
com Leandra Leal.


quinta-feira, agosto 14, 2008

Saudade

Entra sem ser chamada. Me acorda com um beijo doce. Puxa o lençol da minha cama. Jura amor eterno nos meus ouvidos e me impede de continuar. Faz questão de chamar atenção, de sacudir a inercia, de rasgar minha a calma. Traz de presente o cheiro daqueles cachos castanhos de menino. Os cachos que as minhas mãos bagunçaram antes da corrida com o vento para o outro lado do mundo. Aqueles cachos que entrelaçaram o meu corpo com o sedento desejo de permanecer na cama por mais tempo. Mas ela entra sem ser chamada e me acorda. Vai até o banheiro, enche a boca de água salgada e benze os meus olhos. Bom dia estranho. E se mantém aqui no quarto- intrusa companhia- perfuma o ambiente e abraça a ausência do real. Ela mistura desejo com falta, falta com medo, medo com lembrança boba. Todas as cores necessárias para um quadro clichê. Ela usa as minhas paredes como uma grande tela e pinta, rabisca, picha algo que ainda não existiu. A moça vadia me veste de ilusão e recomenda a espera como refeição diária. Logo pra mim, que odeio esperar.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Príncipe da Ilha


O que escrever de você, paisagem muda? Fica parado como dois de paus. Quieto no seu pedestal. Distribuindo sorrisos rápidos para as milhares de súditas abobadas. "Toda moça quer ser rainha", diz a lenda. Pobre engaiolado, deve ser difícil ser alvo de tantas miras. Mas será que é por isso que você se permanece trancado ai em cima? Ou será medo de pisar no chão frio?Sempre achei que príncipes deviam ser guerreiros. Mas cadê o seu rugido? Cadê a mão debaixo do meu vestido? Cadê o fogo sem sentido? Nada. Você tem uma paz que me desconcerta. Plácido azul bebê. Sua selva é politicamente correta. Não há quedas, nem decidas. Você sempre mantém esses olhos calmos de brisa. Parece que foge de tudo que vibra, que tem cheiro e que é vermelho como eu. Cadê o humano adormecido nessa alma iluminada? Quero tua carne, mesmo que ela seja podre. O gosto do beijo. Ver o seu lado mais feio. Cansei do teu meio. Quero teu excesso. Mas parece que o príncipe prefere continuar no seu reino seguro de tons pasteis. Quando é que você vai deixar que as minhas mãos imundas te apresente a liberdade? Vou abolir a monarquia, destruir o seu trono e te embebedar com a minha poesia vadia.

sábado, agosto 09, 2008

Entrelinhas

Merda. Odeio quando me sinto assim. Nem sei porque estou escrevendo isso, mas resolvi começar usar esse meu blog como uma válvula de escape hoje. Simples assim. Vai ser um diário ambulante. Assim fica tudo registrado. Timtim por timtim. As asneiras e as pérolas em uma só mulher. Que coisa brega. Dá até vontade de rir. Mas não foi por isso que comecei escrever... Estou carente hoje. É fato. Queria um beijo e uma massagem bem feita nas minhas costas. Acabei de tomar banho. Um banho quente que não me relaxou. É muito chato quando o corpo pede algo que não podemos dar. Quando digo corpo englobo cérebro e boceta no mesmo pacote. Horrível essa palavra. Como algo tão belo, poético e sublime, pode ser chamado dessa maneira tão vulgar? A origem do mundo é uma palavra chula e porca. Pobre bocetinha... Quero deixar claro que quando falo de carência, não falo de sexo. Sexo é fácil. É só virar a esquina que você encontra aos montes. Mas eu estou falando de outra coisa. Algo raro, meu amor. Algo que revigore a alma. Talvez uma nova paixão fosse capaz de mudar o mundo... Fizesse sorrir mesmo com essa tremenda dor de cabeça. Não é romantismo. É saúde mental. Queria alguém que conseguisse melhorar a minha cara de exausta depois de um dia inteiro de produção caótica. Um som surge do aparelho que me torturou o dia inteiro. Não é que a solução vem em forma de rima distante? Delicia de fim de dia...rs

segunda-feira, agosto 04, 2008

Espaço vazio.
Não há rima, nem poesia.
Desgosto espalhado pelo meu quarto.
Pra que a espera?

sábado, agosto 02, 2008

quinta-feira, julho 31, 2008

Nasceu vento.

Podia ser marola,
mas preferiu ser furacão.

Entrelinhas

Depois de um mês fora é preciso voltar e escrever. Voltar a escrever. Sinto isso diariamente. Como se viesse junto com o despertar do sol. Escrever. Bolar ideias, pensar em rimas. O engraçado é que me encontro sem vontade alguma para recomeçar. Quer dizer, vontade até tenho. Mas recomeçar é sempre o difícil. Reiniciar algo que tá adormecido, parado , mofado não é para qualquer um. Para nos arianos, recomeçar já acarreta uma certa perda de tempo. Se começamos algo, não há porque parar. O recomeço é um gasto extra de energia desnecessária. O melhor é viver tudo de uma vez, de uma maneira intensa e rápida. Na verdade, pensar em recomeçar algo que já me brocha um pouco. Voltar a ser o que já foi? No way. Dizem que a ordem natural das coisas é permanecer como está. A inercia era pregava Newton e todos os caretas do mundo. "Fica como está e ponto final". Como se fosse possível se manter parado em cima da terra que roda. Emprego público, casamento, fast food. A busca inútil de tentar ser o mesmo sempre. Recomeçar algo que já foi feito. Lembro que todas as minhas tentativas amorosas não tiveram repeteco. Talvez isso seja um erro ou orgulho demais. O fato é que na minha vida não há recomeço, apenas começo. Começar é bom. Coça a barriga, gera fogo, energia vital. Faz a gente cantar canções bobas no meio da rua. Começar é entrar de roupa no mar. Simples, imprevisível e delicioso. É ser novo de novo sem ter medo de errar. E que o meu mundo esteja pronto para infinitos começos quando o sol raiar.

Meu coração muda com a direção do vento.
Sopra...

sábado, julho 12, 2008

Poeta e Poetisa

--> Edvard Munch - Kiss on the beach.(modificada)
Veja a original infinitamente mais bela!
Ele surgiu de repente,
calça xadrez e copo na mão.
Ela derretendo o fitava,
sem saber se chegava ou não.

Apressado, já fez o convite:
cama quente, lencol macio.
Um cuidado para moça fada
E um não para o moço vadio.

Depois veio outro encontro.
Rostos reconhecidos,nomes trocados.
E na mistura do acaso com desejo,
Deram o primeiro de muitos beijos.

Regados a pizza e poesia.
Trocaram autores favoritos,
Poetas, boêmios e loucos
Sussuros ao pé do ouvido.

Por do sol sabor Haagen Dazs
Demostrações públicas de afeto
Poeta e Poetiza tremendo de vontade
Pintura exposta no espelho do teto

Desejo saciado e mutiplicado
Um sabor de quero mais
Viagem trocada ao inverso
A saudade aqui já se faz.

O tempo passa rápido
Poetas preferem o talvez
Verdadeiros e espontâneos
Não tem medo de mais uma vez.

Pode ser que tudo passe
e no futuro, desencontro
Quem não arrisca, não petisca
Ele não quer passar do ponto

Pode ser que tudo dure
e no futuro, o encontro
Quem não arrisca, não petisca
Ela não quer passar do ponto

Poesia se faz com rima
Amor com liberdade
Ele vai voar pelo mundo
Ela vai ficar na vontade

Tudo na vida tem seu fim
E também o seu começo
O momento é de se caminhar
Mesmo sem saber o endereço.

sexta-feira, julho 11, 2008

Prefiro minha lágrima verdadeira
ao seu sorriso falso.
O fim é o começo da saudade,
a saudade é inicio da vontade,
a vontade é o despertar da ação.
E a ação é o princípio do fim.

sábado, julho 05, 2008

...



Se a sua perdição é embalada na verdade,
Entreaberta, as minhas as pernas, te espera com saudade.

Epifania

Era paisagem.
Depois, passos.
Na boca, paladar.
Você em pedaços.
Pele, pêlo, pau.
Falando assim, parece banal.
Mas não é. É por do sol.
Poesia improvisada no temporal.
Dizem que a cidade é seca.
E depois da pele, vem a posse.
- Não é o prazer?
-Prazer é o ato de ficar perdida a noite inteira dentro de você...

quarta-feira, julho 02, 2008

Para Minha Vó Alaranjada

Ela tem um gênio do cão. Um gênio do cão e um tumor no cérebro. Um tumor do tamanho de uma laranja foi o que o médico disse nessa terça feira de manhã. O mais estranho é que desde pequena, eu conheci laranjas de todos os tamanhos. E pra ser bem sincera, isso me dá um pouco de medo. Um pouco não, muito medo. Na verdade, me parece invasivo demais, pensar que alguém resolveu, de uma hora pra outra, abrir a cabeça dela para colher uma simples fruta. Será que a laranja já está madura pra ser arrancada do pé? Será que ela não vai sentir falta daquela companhia secreta? Será que os pensamentos ainda vão ter o gosto cítrico? Ela sempre foi a minha cara. Quer dizer, eu que sempre fui a cara dela. Todo mundo fala. O jeito de andar, de escrever, de levar a vida. Desde pequena, minha mãe já falava. Não sei se foi por isso, ou pelo acaso do destino, que me deram o mesmo nome que o dela: Lúcia. Significa luz. Mas não uma luz qualquer. Lúcia é uma luz bonita, mesclada, suave e forte ao mesmo tempo. A luz ideal. Pele morena, cabelos com cachos grisalhos e um sorriso apaixonado. Lembro das nossas tardes. Ela contando dos amores que teve, de como conheceu "ele" no festival de cinema da década de 50, de como era difícil uma mulher trabalhar fora naquele tempo. Nós temos os mesmos signos, só que ao inverso. Ela é libra ascendente peixes, e eu peixes ascendente libra. Ah, e lógico. Ela agora tem uma laranja a mais também. Uma laranja que vai ser retirada do pomar daqui a duas semanas. Eu ainda não tenho laranja, nem morango, nem maracujá. Só tenho meu amor por ela mesmo. Quando eu era pequena, a coisa que eu mais desejava na minha vida era correr para os braços e para a casa dela. Lá tudo era permitido! Tinha gato, cachorro, papagaio. A gente podia ser o que quiser, brincar do que quiser, se vestir do que quiser. Só não podia comer o que quiser. A comida de lá, era ruim. Ela me obrigava tomar sopas horrorosas. Eu fingia que tomava, joga fora, sofria na hora da mesa... Mas mesmo assim, valia à pena agüentar a sopa pra ficar do seu lado. De noite, subíamos para o terraço e olhávamos as estrelas, e ela contava de quando quase foi abduzida por um disco voador. Acho que é por isso que eu morro de vontade de ser abduzida até hoje. Depois, quando íamos dormir, ela limpava os nossos pés com um paninho molhado. E o melhor, ela sempre deixava eu dormir com um gato. Minha mãe odiava gatos, dizia que eu tinha alergia, mas nunca tive isso quando dormia com o gato na cama dela. Acho que a cama dela era antialérgica. Bom, depois o tempo passou. E veio a adolescência, e eu continuava a correr para os braços dela. Ela fazia cada fantasia de carnaval! Cada ano, um bloco diferente. Melindrosas, diabas, onçinhas. Nem todos os confetes do mundo, poderiam expressar a minha alegria de passar o carnaval com ela. Ai depois, o tempo passou de novo. E eu virei adulta. Uma adulta que se especializava em correr para os braços dela. Quando eu chego perto dela, tenho vontade de ficar abraçada o dia inteiro. De falar de teatro, de sonhos, de astrologia. De ver como ela é moderna mesmo tendo nascido nos anos 30. "Moderna demais"- a minha mãe fala. E agora essa: inventar de criar laranja na cabeça. Vê se pode? Mas tudo bem. Nada de ruim acontece com ela. Nem comigo. Somos Lúcia. E Lúcia significa luz. Quer saber? Eu tenho certeza que daqui a duas semanas, estaremos todos tomando suco de laranja em pleno carnaval, bem do jeito que ela gosta.

domingo, junho 29, 2008

Ao Novo Chef


Antes de você começar, é preciso limpar a cozinha.
Deixar a geladeira vazia. Jogar o resto de comida fora.
Esquecer de todas as outras que foram embora.
Se deliciar com o momento presente.
Escolher com calma, cada ingrediente:
Açúcar, afeto, chocolate e ervas finas.
Sair por ai, à caça de boas meninas.
Deixar ser escolhido pela mais adocicada.
Aquela que parece meio doida, meio enluarada.
Ter um beijo roubado, um nome trocado, sorriso encabulado.
Depois cobrir a moça com o teu desejo sedento.
Ir adicionando água, farinha e fermento.
E amassar, amassar, amassar devagar.
Para que a massa cresça uniforme.
Sem pressa, sem medo, sem embolar.
Pensar direitinho com o que rechear:
Se quer doce, se quer amarga.
Se quer seca, se quer molhada.
Se quer rápida, se quer demorada.
Aquecer o forno, escolher o grau.
Esparramá-la em sua assadeira.
E após assar, decidir como servir:
Em pedaços ou inteira?
Ah, por favor, depois de jantar, lamba os beiços e lave as mãos!

quarta-feira, junho 25, 2008

Baile de Máscaras

Acenaram as mãos.
Sem intimidade.
Sem contato.
Sem cheiro.
Sem retrato.
Sem beijo.
Sem gemido.
Sem verdade.
Sem sentido.
Encenaram as mãos.

terça-feira, junho 24, 2008

Haiku

Espia a espera,
Espia como pia,
Espera da moça,
na cama vazia.

Definição

ave. vento. sorriso. excremento. dúvida. desejo. raiva. beijo. efêmera. independente. suspensa. carente. pisciana. lucia. sopro. sangue. água com gás. boba. infantil. madura demais. poeta. doce. atriz. amarga. amada. perdida. largada. encontrada. lágrimas e gemidos na madrugada.

Antítese do ser: sou eu, sou vc.

segunda-feira, junho 23, 2008

Poesia Gripada

Começa com aquela moleza no corpo.
Coisa dengosa, olhar perdido.
Será que eu vou de vez,
Ou será que dessa vez eu fico?

E de repente, me vejo tomada por ela.
Não há como fugir, ou me auto-enganar.
Sua voz rouca, seu jeito escorregadio.
Agora é só com essa dona que vou dançar.

Ela me leva direto pra cama.
não aceita minha negação.
me cobre de lenços de papel
E me beija a boca e o pulmão.

Chazinhos de gengibre.
Pastilhas de menta.
Resfenol de manhã.
Chocolate com pimenta.

Cof cof cof
Achitm achitm
Pra mim, já chega.
Dessas onomatopéias chinfrins!

Imploro que passe.
Aviste outro amor.
Sai desse corpo que não te pertence.
Moça vai embora, por favor!

quarta-feira, junho 18, 2008

Canalha

Acossado, de Jean-Luc Godard

"Beijei um canalha!" - ela disse de olhos fechados a si mesmo no meio da madrugada. Nem nomes, nem poemas, nem perfumes. Apenas um corpo desconhecido e descabelado que introduzia sem pudor aquele gosto específico nos seus lábios secos. O gosto característico de uma espécie rara, quase extinta no mundo atual. O gosto de um canalha perfeito. Digo desses autênticos. Rodriguianos. Convencionais. Escorregadios. Com a voz rouca, cara de carente e as mãos macias. Um canalha de marca maior... Num primeiro momento, além de surpresa com a descoberta, ela ficou extremamente excitada com a possibilidade de ser transportada para um novo lugar. Ou melhor, um antigo lugar. Um lugar preto e branco. Nouvelle Vague com banquinhos e música francesa ao fundo. Não que ela fosse romântica, ainda mais com ícone desses do seu lado, mas é que só conseguia imaginar tipos como esses nos filmes antigos. "Não é que canalhas existem?" pensou enquanto esboçava um sorriso no canto da boca. Não que ela fosse masoquista ou maluca. Pelo contrário, a constatação de que havia beijado o tal moço fazia dela, a mulher mais feliz do mundo naquela pista suada de sábado. Era como se ela tivesse dançando abraçada com a verdadeira identidade secreta masculina. O estereótipo que tinha sido alertada tantas vezes pela sua avó, pela vizinha fofoqueira, pelas revistas clichês. Ali, ao alcance das tuas mãos, um canalha! Bingo! Enfim, resposta certa! Nada mais de conversas doces, presentes doados ou um futuro delicadamente planejado. Mesmo porque, para os canalhas, o futuro não existe. O que existe é essa pista lotada, cheia de bocas e bundas, essa música gritando, a cerveja gelada no corpo quente. E cá pra nós, um homem desses, não engana ou assusta as mulheres. Talvez garotas. Mas não mulheres. "Eu tenho medo dos cordeiros, e não do lobo mau." - ela repetia nos dias de caçada. E o que é um canalha, senão um belo lobo mau? Ele escancara tua fome, pede cafuné e te garante uma noite deliciosa se você permitir. "Sim...Mil vezes sim..." - sussurrava ao pé do ouvido transformando seu canalha em presa. A música continuava alta, os corpos cansados dançavam e ela era engolida lentamente pelo seu par fora de moda. Carona, casa, quarto, cama, corpo, cansaço, canalha. “Qual era mesmo o nome dele? ”- ela tentava se lembrar, no dia seguinte, esbarrando com o sorriso apaixonado do moço ao lado, que insistia em dar mais um beijo depois de uma noite quente na cidade fria.
Meu amor, pra que esse grito,
se respondo muito melhor
com sussurro ao pé do ouvido?

sexta-feira, junho 13, 2008

Querer : Verbo transitivo - Verbo intransitivo - Substantivo masculino

Dialogar com seus olhos
Beijar seus cabelos
Teus pêlos nas minhas coxas
Você me deixando frouxa.

Tua barba na minha nuca
Teu gosto no meu umbigo
Teu som no meu ouvido

Quero muito mais,
Muito mais do que a gente tem sido.

Suspiro

Tira de Lucas Tonon Gehre

Alguma falta, muito desejO.

ou

Casaco vermelho, coração cinzA.

quinta-feira, junho 12, 2008

terça-feira, junho 10, 2008

Escorrega-dor


Tira de Lucas Tonon Gehre

Peço. Imploro. Suplico.
Apenas aprender a escorregar direito nessa vida...
Sentar no assento sem medo ou receio.
Talvez cair de bunda no chão no meio da contramão.
E ainda assim, conseguir ver o por do sol em seguida.

domingo, junho 08, 2008

Ação Necessária

Pausa ( s. f.) : Ato de ficar em silêncio, de preferência calma, madura e quentinha. Momento de ser só minha. Se deliciar com um brigadeiro de colher. Ver filme enroscada num edredom qualquer . Receber abraços dos livros favoritos. E escutar a voz do Arnaldo no pé do ouvido. Esquecer de você e namorar a solidão.

sábado, maio 31, 2008

Era cedo, era sábado.



" Demasiado, demasiado esforço. Imaginou a cidade lá fora, com gentes falando sempre alto demais, sem parar entrando e saindo dos lugares, bebendo, comendo coisas, pagando contas, dançando alucinadamente, querendo ser felizes antes da segunda-feira: urgente."

Caio Fernando Abreu




Era cedo, nem oito horas da noite. Noite de sábado. Mais uma de tantas que já foram e tantas que virão. Aquele dia que a única coisa que queríamos é ficar bem servida na cama, em companhia de um bom filme do Bertolucci e com mãos habilidosas debaixo dos lençóis. Talvez alguns arranhões nas costas e mordidas na nunca também seriam providenciais para noites como essas. Tinha nojo de sair nas noites de sábado. Sempre os mesmos bares, esbarrando com as mesmas pessoas, a mesma babaquice de sempre. " Oi, meu amor! Como você tá? " - responderia com um sorriso falso e com uma vontade imensa de trucidar a voz chata que incomodava. Como ficar bem nesse mundo torto e sem graça? Ir para alguma festa num dia desses é um verdadeiro atestado de burrice, essa cidade está repleta de moleques por todos os lados que parecem brotar de chocadeiras histéricas. Não, não é só porque era sábado que daria o trabalho de tentar caçar inutilmente numa floresta vazia. Preferia ficar com seus autores favoritos. Quem sabe fumar unzinho pra relaxar. Ou se masturbar até o corpo dizer chega e depois olhar para lado e encontrar a cama vazia. O seu vazio de costume. Era cedo, nem oito horas da noite. Daqui a pouco o telefone ia começar a pipocar ligações que buscavam informações de qual seria a boa de hoje, ou o que ela iria fazer nessa noite estrelada. Ou pior, algum ex-qualquer-coisa querendo relembrar os velhos tempos. Ela não era dessas pessoas que costumam olhar pra trás. Preferia ficar onde estava: enrolada no seu edredom preto, nua, sozinha e bem despenteada. Estava cansada de passar maquiagem nas olheiras das noites perdidas, de olhar para a multidão faminta, de ser a mulher bonita e interessante da maravilhosa noite de sábado. Desgraça! Porque não passamos da sexta-feira direto para o domingo? Na verdade, isso pouco importava nesse momento. Domingo ou sábado, sabia que o vazio seria o mesmo. O vazio que não passava nunca, que impedia de se adaptar essa cidade, a esse país, a essa vida. Porque pra ela não era tão fácil como para os outros? Porque esse romantismo babaca de historia infantil? Porque ela, como uma mulher moderna e inteligente, não podia dar uma boa trepada com qualquer um - dos milhões que correm atrás dela - e esquecer de tudo em seguida? Porque esse vazio insistia em corroer seu peito, fazendo se sentir a criatura mais sozinha e infeliz da noite de sábado? Não era excesso de moralismo católico ou de novelas clichês. Mesmo porque, nunca tinha ido à igreja, a não ser de passagem, em casamentos e missas de sétimo dia. Mesmo assim, nunca se sentiu bem num lugar onde o pé direito era enorme e havia quadrinhos com cenas de torturas pregadas por todos os lados. Ela gostava do belo, mesmo esse seu belo sendo sempre muito peculiar. E quanto à televisão, odiava tudo que vinha daquele quadrado escroto: o som, a seqüência das imagens, o consumismo desvairado, as mocinhas, a solidão pré-anunciada. Era como se quando ligasse aquela maquina mortífera saísse de lá um manual da felicidade urbana instantânea: Compre, Case, Reze, Beba, Seja feliz. Definitivamente, a falta que sentia não era resultado do grande quantidade de merda desse nosso mundo. Essa falta vinha de outro lugar qualquer, um lugar escondido, perdido, obscuro. Um lugar que não existia nas noites de sábado. Mesmo assim, muitas vezes, em dias normais ou sábados estranhos, ela procurava uma solução para sua falta. Já tinha chegado muito perto de solucionar várias vezes. Chegava a visualizar a sua meta, direcionava o foco, apressava a sua mão e na hora h, no momento que tudo estava pronto a ser realizado e tinha uma enorme certeza que a solução estava ali bem próxima dos seus dedos, ela agarrava com um sorriso infantil algo tão exato como nada. E o que parecia cheio, rapidamente se extinguia. E ela, de novo, era preenchia daquele vazio intimo. O vazio que a impedia de ser igual aos outros, que impregnava seu belo rosto, que a visitava nas noites de sábado. Mas era cedo, nem oito horas da noite, e sábado sorria ironicamente para moça nua enrolada num edredom que esperava inutilmente agarrar algo.

Dolorida


Ama-dor
Bebe-dor
Consumi-dor
Destila-dor
Escorre-dor
Facilita-dor
Grava-dor
Habilita-dor
Investiga-dor
Joga-dor
Lastima-dor
Media-dor
Navega-dor
Ouvi-dor
Perde-dor
Queima-dor
Refrigera-dor
Seca-dor
Tritura-dor
Usufrui-dor
Vence-dor
Xinga-dor
Zela-dor
Com-puta-dor

domingo, maio 18, 2008

Papel de paredE


Desligamento - by Silva ( http://www.flickr.com/photos/osilva/)



Primeiro preciso falar desse rasgo. Um rasgo grande nas costas, de fora a fora, despercebido a olho nu. Marcando algo que foi arrancado de forma rápida, descuidada e dolorida. Ao todo, tenho cerca de oito roxos espalhados pelas pernas, uma queimadura pequena debaixo do queixo e esse rasgo nas costas. Feridas abertas para quem quer ver. Como cuidar disso tudo isso assim, sozinha? Pele exausta de pancadas diárias. Ainda há uma espera infantil. Boba agoniada. Espera por seu cuidado. Ou palavras. Ou explicações. Ou abraços. Ou qualquer coisa sua. Olhando assim, de fora, parece ser patético demais para uma mulher interessante como eu. Uma mulher que não sabe cuidar dos próprios machucados. Florais de Bach, meditações, porre homérico, um beijo numa boca imunda qualquer. Dizem que passa, que melhora. Dizem tantas coisas a respeito do meu rasgo. Palavras inúteis. Eu continuo com ele aqui, aberto. E quando ele começar a cicatrizar, vai deixar de lembrança uma marca. A marca vai desbotar com o tempo, vai impedir que eu lembre a dor do corte, vai me colocar de novo em perigo. Mas por enquanto, ele está escancarado sobre as minhas costas. E perco muito sangue vivo, principalmente quando vejo a sua indiferença em relação à profundidade desse meu rasgo. Dói, minha grande queda. Agora me encontro aqui: caída nessa calçada suja. Um anjinho caído? Não, uma mulher puta. Entregue ao acaso e sem nenhum casinho interessante pra trepar. E pra piorar, eu ainda não consigo entender direito o porquê dessa queda. Já procurei motivos plausíveis para entender o ato de escancarar os seus braços e me deixar cair pela janela do seu quarto sem dizer pelo menos boa viagem. E eu não tinha pára-quedas. Despenquei feito um abacate maduro do pé. Junto ao concreto, estatelada no chão, esbarro com o seu sorriso feliz lá no alto. Não que você seja um homem sádico ou daquelas pessoas que riem da desgraça dos outros. Não, você é um homem bom, age com sinceridade e inclusive não esconde a sua dança bonita com seu novo par. Já eu, moça falsa, tento encenar com muita maquiagem e vodca barata, esse corte nojento que grita nas noites frias. Grita, xinga, berra e pede vingança. Poderia tentar educar bem esse meu filhote, meu rasgo de estimação, para que ele fosse um bom moço como você, que soubesse dizer fodasse de uma forma suave e romântica. Bom , nesse momento, você deve está se questionando como uma queda curta pode doer tanto? Será que é manha de poeta triste? É um aborto mesmo. Aborto aberto, que sangra e dá medo de novos braços, mesmo que estes, sejam os seus. Foi meu cheiro? Meu latim barato? O medo do encontro? Ou apenas seu cansaço? Sigo sozinha com o coração abortado. E todos os dias, ao amanhecer, depois da minha insônia diária, tento vomitar o que resta de você em mim. O olhar de palavras bonitas, a escova de dente doada, o banho quente no seu chuveiro. Vomitar tudo pra ver se o rasgo melhora. Podíamos ter sido algo mais que dois corpos perdidos nessa humanidade imunda. Não quero com essas palavras tolas tentar uma volta, criar clima ou fazer o papel de vitima. Se me coloquei de frente para aquela janela, solta ao por do sol, entregue aos seus braços, foi porque no fundo, queria voar. Não cair, mas voar sobre o céu imenso da cidade cimento. E agora ando em companhia do meu rasgo aberto que se mistura com doses generosas de destilados, sorrisos falsos e olhares desfocados para a multidão faminta. Dói, pesa e me deixa de lápis borrado! Para que tentar esconder o que está na cara? Papel de parede de cores frias. Meu triste papel mofado com rasgo de fora a fora.

quarta-feira, maio 07, 2008

Desabafo

Vontade de vomitar tudo. De gritar para os quatro cantos. Desentupir a garganta, o coração e a cabeça. Esquecer toda essa dor envolvida e embalada pra viagem. Porque o mundo resolveu despencar, logo agora, que eu tava tão ocupada? Pais acidentados, pé na bunda, britadeira no ouvido e uma tentativa de suicídio básica. Todos esses ingredientes dançam sobre a minha cabeça pesada. E como pesa essa cabeça, essa mala e esses sonhos tolos. Será que ela não vem? Risos nervosos de uma desconcentração infantil. Sorriso falso. Lugar falso. E só a dor é verdadeira. Será? Falta entrega, disponibilidade, risco. Você luta com o mundo inteiro pra fazer isso? E as lágrimas que deviam aparecer no palco, caem no banheiro infectado de formigas sedentas. Da onde vem todas essas formigas ridículas? Choro, grito, esperneio pra o meu espelho velho, que de mágico não tem nada. Onde tão as respostas? Imagem torta e embasada. Só. De novo só. Errei o lugar, a pessoa, a esperança, a porra toda. “Agora mesmo, tinha certeza, que você estava a minha volta”. Por favor, volta. Quero a sua música ao amanhecer. Espera. “Espera que passa”. E a espera, passa? Não, pulsa. É como se não adiantasse fugir, mudar o foco, olhar para lado... Estamos todos no mesmo barco furado. A garganta entupida pede pra falar, mas a voz não sai. E eu continuo parada, com a mesma mascara de sempre, enquanto o mundo vai se dissolvendo rapidamente. Quer saber? Queria mesmo era um doce, ou então, morrer um pouco de vez em quando.

sábado, maio 03, 2008

Novelinha Clichê


Primeiro Ato:

Moço, são três pontos ou ponto final?
Seu silêncio vai gerar mil poesias.

Segundo Ato:

Aqui é o Ponto Final.
A passageira deve descer, pois o ônibus vai pra garagem.

Último Ato:

É moça...
mais uma vez... você errou o lugar !!!

E lá segue a moça com sua eterna companheira fria numa noite escura na cidade sem esquina...

Um ps astrológico para os que sabem:
Vênus Oposição Saturno, , exato às 07:56

domingo, abril 13, 2008

Fato

A sua calma é inimiga da minha perfeição...

Lugar ideal

A anda até a metade do caminho.
B caminha até a metade do mesmo.
Logo, as metades viram inteiros.
E lá estamos nós, mais uma vez, divididos!

domingo, abril 06, 2008

Sem pés machucados


Esse era um daqueles dias mágicos, quando os opostos tornam semelhantes. Os dois corpos estavam parados, nus, entregues. Um sobre o outro, outro sobre um. Opostos dançavam suas diferenças sobre uma luz vermelha azulada. Uma dança à dois, sem pés machucados. Movimentação suave, leve como brisa, sobre aquela cama bagunçada que nos abraçava. Pés de valsa, sonhos de mãos e olhos que mostravam o que a mente gostaria de esconder. E era de lá, dos olhos falantes, que nascia a música. O dialogo entre os opostos. Opostos que se assemelham no olhar, no cheiro, no tato e no gosto. E enquanto isso, mundo fazia silencio para não atrapalhar a nossa dança.

segunda-feira, março 31, 2008

3x4


Quem sou:

Todas e nenhuma.
Dentro de um pote,
fora da validade,
da Avon.
Em cima da estante
vermelha, estilo anos 20,
num filme PB de quinta.

sexta-feira, março 21, 2008

Receio


Não devo fechar, nem abrir:
deixar entreaberta.
Sumir com a certeza,
e mostrar apenas uma fresta.

Respirar duas vezes,
pensar outras 500.
Olhar a nova ruga no espelho
Chá de camomila com menta!

Acender um incenso
Olhar para o lado
Será que devo sair de mansinho
ou correr acelerado?

Segurar as pernas que balaçam
Meu eterno medo de ter medo
O receio da dança à dois.
De ser pássaro preso no rochedo.

É melhor esquecer de tudo isso.
Deixar o tempo passar.
Parar de escrever e pensar:
Porque se preocupar tanto,
se no fundo o que todos querem é amar?